quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

TAMARINDOS

Enquanto os confetes caíam, ela prestava atenção a ele. Cabisbaixo em um canto, como a esperar um soluço ou quem sabe o inusitado. Talvez, uma canção que o levantasse para a vida. Não, um trampolim que o dispersasse do passado direto para o futuro. Ah, essa canção não vinha, esse trampolim não existia.

_ O que houve? perguntou ela

_ Saudades - respondeu alheio

_ De quê?

_ Não sei. Acordei hoje com um gosto de tamarindo como se tivesse me fartado.

_ Mas você nem gosta de tamarindos... ao menos foi isso o que me respondeu, quando eu te ofereci.

_ Eu nunca os comi, foi o que te disse.

_ Então eu não entendo. Como pode sentir gosto de tamarindos se nunca os comeu?!

_ Você não entende...

Neste momento algo apontou na esquina.

_ A troça! - anunciou ela

_ Não, minha querida, a banda. Veja.

Ela então sentou-se junto a ele e observou: o maestro parecia flutuar no seu traje de algodão. Com as mãos articulava os sons. A batuta parecia mais uma varinha de condão, pois em cada movimento as notas compartilhadas entre cordas, sopros, baquetas, harmonizavam o ambiente como a distribuir canções próprias ao coração. Os confetes inverteram a direção e começaram a subir ao céu. E lá chegou, ficando mais um pouco para chover canções em meio ao turbilhão de emoções.

Máscaras negras, pierrot, arlequim, bailarina, palhaços, colombinas, todos se espalharam pelo ar.

O dia raiou e o vento levou confetes, fantasias, máscaras, serpentinas. Ficou o gari no seu trabalho incansável, o médico a computar o estrago, o adeus a pessoas queridas...ficaram tanto na sua realidade. O menino engraxate a batucar na praça uma velha canção. Sorriso sujo de graxa a pedir mais um tostão. Sobrou-lhe um tamarindo para o almoço. Ele também tem saudades...saudades do que nunca teve.


Magna Santos

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CURIOSA VIDA

Um relógio de trás para frente. Quantos não gostariam de contar o tempo ao contrário? Esses seres humanos inconformados com o destino... Em busca de retomar o tempo perdido ou de reverter o já acontecido, um pai busca o filho morto na volta do tempo e um outro pai rejeita seu rebento, por vê-lo como um monstro, não como filho. Eis o mote, eis a questão. Cria-se o cenário de Benjamim Button. Três horas de filme e nem parece. O filme nos hipnotiza com poesia constante: um beija-flor coração, beija-flor liberdade, beija-flor infinito; uma criança-velho crescendo em meio a idosos; o grande amor num olhar; a espera rasga o tempo em busca do momento certo, momento em que os dois estão quase com a mesma idade em vida; um pequeno delírio no mundo do "se", como fazemos sempre, só que o inusitado é imaginar tantos "ses" juntos para tanta gente, isto tudo num lamento por um acidente, o qual não pôde mesmo ser evitado; a vitória contra o egoísmo, deixando pessoas queridas crescerem sozinhas, apesar do amor, ou melhor, por causa do amor.

Quanta coisa num só filme! Tantas que o relógio andou parado nestes últimos dias, tentando resgatar impressões, idéias, falas tão importantes. Comentar a respeito delas? Falar, desenvolver algo? Era a intenção. Mais uma vez percebi que não se explica a beleza, apenas se sente:

"Era um lugar maravilhoso para crescer, com pessoas ao redor com experiência de vida, falavam sobre o tempo, sobre a temperatura do banho e sobre o pôr do sol no final do dia."

"O curioso é que as pessoas que lembramos menos, são as que mais nos marcam".

“_ Nasci velho.
_ Sinto muito.
_ Não é necessário, não há nada de errado com a velhice.”

"Para as coisas importantes, nunca é tarde demais (...) Não há limite de tempo, comece quando quiser."

"Podemos ficar zangados com as situações, podemos reclamar ou amaldiçoar o destino, mas quando chega o fim, temos que aceitar."

"Espero que veja as coisas que a assustam.
Espero que sinta coisas que nunca sentiu antes.
Espero que conheça pessoas com diferentes opiniões.
Espero que viva uma vida da qual se orgulhe.
Se você achar que não tem, espero que tenha a força para começar novamente."

Curioso...mas a vida, independente da direção que se queira dar, segue sempre o seu curso e guarda sempre grandes lições para quem quer ser um bom aprendiz.


Magna Santos