sábado, 29 de agosto de 2009

RAPUNZEL DO SERTÃO

E assim Rapunzel ficou esperando seu príncipe
Sem tranças
Sem ilusões
Ou fantasias
E para escapar da agonia
Plantou flores de plástico ao sol poente
Nem toda dor decorre da gente
Nem toda cor retrata a lente.


Estas foram algumas palavras escritas a partir desta fotografia. Sementeiras está quase criando uma série pras parcerias com Pachelly Jamacaru, ou melhor dizendo, para as caronas inspiradas nas imagens captadas por este artista (sempre muito generoso comigo, sem ao menos me conhecer pessoalmente).

Apesar de arriscar tirar um pouco do proposto acima, eu não poderia, desta vez, publicar as palavras que me vieram, sem traçar um pequeno paralelo do que acredito ser a realidade da imagem, com base no meu conhecimento do povo sertanejo, do qual faço parte. Fico imaginando o que esta senhorinha diria ou sentiria se lesse o que escrevi... Ela, logo ela que acorda todo dia 4:30 da manhã, vê o sol nascer na serra, cata feijão, arroz, prepara o almoço, lava roupa, varre a casa...e assim permanece entre um afazer e outro até marcar as 18:00h, hora da Ave Maria, quando então se recolhe para agradecer o dia e a noite e pedir a bênção à Mãe Maior. Sim, assim mesmo, sem ilusões nem fantasias. Só calos nas mãos e uma gratidão imensa no coração.


Magna Santos

sábado, 22 de agosto de 2009

O MENINO GOLFINHO E O OLHO D'ÁGUA*

O menino golfinho
Dá cambalhotas no escuro
Sustenta o suspiro
Afunda melhor
Sobe de um fôlego só
Escorrega no abismo
E pra ser seguro
Solto
E passarinho
Lembra da fonte de nuvem
Que brota no chão
No fundo do chão...
Das águas.

Magna Santos

*A foto "O menino golfinho" é mais uma obra de Pachelly Jamacaru, o qual gentilmente autorizou a sua publicação. Foi tirada no Balneário do Caldas, situado na Serra do Araripe, em Barbalha-CE.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

QUANTO VALE

Há quem diga que flutuo
Outros, que permaneço no chão
Há quem suspeite do meu esboço
Como a amealhar intenções
Há quem adivinhe os suspiros
Os gritos e até as solidões

Há, sempre haverá
Onde ainda nem sei...

Me aparto do mundo
Para me ter mais inteira
Me aparto de tudo
Para sossegar o espírito
E há quem diga que sofro
Quando apenas sonho

Meninos perambulam nos meus sonhos
À procura de abrigo
Órfãos esperam aconchego
Enquanto estudo
Pais se interrogam sobre o eixo
Quando tateio o meu
Leis falam dos direitos
Onde existem aos pedaços
Inteira, permaneço na intenção

Escrevo os meus dias no silêncio
Falo quando faz barulho
Escuto a saudade
Enquanto canto
Talvez eu chore
Enquanto durmo
Talvez eu sonhe
Enquanto acordo

Creio que deixei de dormir
Talvez a sonolência de tempos
Se despeça pra nunca mais

Quero assistir ao menino bravio
Quero amparar-me na esquina dos trilhos
Extasiar-me com as multidões
Isolar-me dos padrões vazios
Encontrar-me com a menina que fui
Tirar-me de um muro de pedra
E pular ao encontro da luz

Sem dragões vermelhos
Sem espelhos assombrados
Sem cristaleiras de eus

Dar adeus ao que não me serve mais

E quando eu estiver de volta
Quero me ver de pé
Caminhando
Quem sabe pulando de alegria
Me despedindo do meu amado pai:
Até logo, até breve, até mais
Segue avante, querido sempre, estou aqui...
Estou em paz


De mãos abertas ao destino
Seguindo as pegadas do Menino de Luz
Sem esperar pelo Natal.
Sem esperar.

Quanto vale um coração sereno?
Quanto vale um espírito em paz?
Quanto vale toda uma vida?
Quanto vale o que tenho pra viver...
Ah, quanto vale!


27.11.2006.
Magna Santos

domingo, 9 de agosto de 2009

O AMOR DE PRESENTE

Não, não tenho mais o que te falar como antes
No dia de hoje.
O meu amor eu já te dei em dia de pais
Embrulhei com carinho
Empacotei
Adornei com um laço
Da mesma fita que amarrava os meus cabelos infantis
E te dei.
Mas que bobagem a minha:
Ele (o meu amor) já era teu.
E hoje repito a bobagem outra vez
Toma pra ti o que já é teu
Repara na falta do laço
Sinal que tua filha cresceu.
Continues também crescendo onde estás
Isto nos felicita
Continues seguindo pro alto
Isto nos conforta
Continues se libertando de nós
Isto nos fortalece.


Enquanto o Pai deixar
Serei tua filha
Enquanto Ele deixar
Te darei o amor toda vez
Para não esqueceres de onde vens
Para lembrares aonde vais.


O Pai te espera de braços abertos!
Segue feliz e em paz!
Feliz dia dos pais!


Escrito em 06.08.2008.
Magna Santos

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DRAGÃO VERMELHO

Meus cabelos balançavam soltos
Ao contato de tuas mãos.
Por entre as grades do jardim
Via teu corpo de herói a deslizar como num sonho
Grande, alto, alegre, feliz
Como eu, como nós,
Meu pai.
Já estavas atrasado
Ao que tudo indicava
Ou quase tudo:
Ficava eu a ver-te ir
Por entre a grade? Não.
Me subiam ao muro
E de lá assistia
Ao que não podia supor.
Corrias feito um menino
E o dragão vermelho te esperava
Para inesperadas aventuras.
Um tchau de braço inteiro
Mostrava como eras feliz
Parecia um menino...!
Igual a menina que ficava
A ver-te por cima do muro
Sentada no muro...
Lugar mais incômodo, meu pai!
Melhor o teu colo
Melhor o teu braço
Teu abraço benfazejo
Teu aconchego eterno
Que o tempo me promete e traz
Meio que em uma nuvem
Talvez uma fumaça que seja
Tragada pelo dragão
Derramada pela espuma do mar
Que te levou de mim

Foi engano, papai, é engano!
Olha o relógio outra vez
Ainda é cedo
Não estás atrasado
Vem!
Me tira daqui
O muro é duro, pequeno, inseguro
Quero sair
Quero subir nas tuas costas
Sentar na tua corcunda
E sair por aí
Segurar na testa tua
Pra não cair
...
Que mundo mais bonito, pai
Quando visto daqui!

Escrito em 2004.

Magna Santos

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

PEÇA DA MINHA VIDA

Mesmo antes de nascer, Deus te escolheu como pai
Nome pequeno para uma função tão grande
Quando, enfim, chegamos, descobriste o que seria:
Cabecinhas novas para tu guiares
Mas nem tudo ocorre como esperado
E eis que mais tarde tu adormecerias
E acordarias meio atordoado
Saudade lancinante a cortar-te o peito...:
“Onde estão meus filhos?”
Luz guia, tu apagaste!
Agora acendes em outros redores
Tão longe de nosso lugar
Tão perto do nosso coração.

E os dois pequeninos comparecem todos os dias
Às desventuras da tua ausência
Crescem pernas, bocas, cabeças
Aquelas mesmas que te esperaram no jantar
No adormecer
No acordar
No brincar
Na escola
Nas dúvidas diárias
Na volta da faculdade
Do trabalho
Na chegada dos filhos...sobrinhos queridos:
Netos teus.
E mamãe te espera para pegar-te a mão segura
Quantas esperas, meu pai!
Quanta saudade!
Saudade que tu já compreendeste
E que nos resta acomodar
Sem maiores dores ou faltas
Como um quebra-cabeça no coração
PEÇA DA MINHA VIDA!

Escrito em 10.08.2003.
Magna Santos

terça-feira, 4 de agosto de 2009

PAI

Uns já se despediram
Outros tentam encontrá-los
Alguns esperam reconhecê-los
Pais

Impossível existir sozinho
Impossível pensar uno
Difícil pensar em dois...
Pai

Há palavras nascidas germinadas
Há nomes acompanhados de outros
Há letras que associam outros fazeres:
Pai

_ Pega a lanterna para eu te ver melhor
_ Pega o analgésico para eu te ouvir melhor
_ Pega a minha mão, filha

Pego o sonífero para eu acordar
Pego o sonho para eu te encontrar
Pego o paradeiro de uma estrada do mar...
Meu pai.


Magna Santos