quinta-feira, 29 de outubro de 2009

OLHOS FECHADOS*

E hoje eu vi a face da morte.
Sorriu para mim
Em pleno inverno
Deitou-se no chão
E me falou de saudades
Apertou meu coração
Depois chorou
E eu sorri
Para não falar.
Hoje vi a cara da morte…
Era feia
E bela
E feia de novo
E bela outra vez
Até que fechei meus olhos
E nunca mais os abri.

Magna Santos

*Palavras dedilhadas a partir da leitura "Cantiga para Laura Avellaneda Santomé" do blog Razão e Poesia de Gustavo de Castro.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MIGALHAS DE UM CASAMENTO

Ela me mandou um pedacinho da alegria e eu me fartei! Tanto que terminei em lágrimas a leitura de um amor declarado, pronunciado, vivido com poesia contagiante. Ela que nem me conhece, generosamente, me fez conhecer um pouquinho do que foi seu momento mais especial.

Amizade é sentimento muito nobre para termos por quem não deu provas dela, assim, não posso dizer que sou amiga deles, não tenho a menor intimidade com eles, mas fica por minha conta e cota de enxerimento hoje dizer que eles são meus amigos. Já a conhecia pelas lindas letras em Barro Cru. Ele, há bem mais tempo: pelas palavras em Estuário (desde a época do JC), por uns encontros desencontrados em virtude de um convite para dividir palavras com um grupo de cabeças brancas, muitos emails trocados e uma visita inesquecível a sua eterna e acolhedora tia Floceli.

O casamento ocorrido no último sábado parece ter contagiado a todos com uma alegria e um sentimento de "como vale a pena viver!", pois alguns blogs estão pipocando de felicidade e de referência à festa.

Assim declaro, de antemão, que não estive lá. Eu não vi a noiva entrar com a sobrinha linda. Não vi o noivo molhar a barba com lágrimas de emoção. Eu não vi os inúmeros amigos inundarem os corações de felicidade pela presença do amor. Não vi também a decoração feita pelas amigas, tornando uma das ruas do Poço da Panela ainda mais bela. Ah, eu não degustei o arrumadinho caprichado que mãos amigas fizeram. Não pude nem escutar os poemas salpicados como arroz nas cabeças dos noivos. Nem conheci Gustavo - o famoso amigo - a tilintar belezuras em forma de poesia.

Não é a primeira vez que escrevo sobre um casamento, já andei molhando os olhos por estas terras
aqui, com direito a lírios e tudo mais. Assistir ao amor só não é melhor do que vivê-lo. Porém, agora, não foi o casório de uma amiga íntima, como da outra vez e, principalmente, não estive lá. Mas, sinto que estou agora, porque a alegria deles é realmente contagiante. O email inusitado de Silvinha me fez parar na hora do almoço e querer dividir um pouco desse contágio com vocês. Vejam, leiam(quem ainda não leu), se inspirem, respirem e se fartem, como eu me fartei. Visitem quem esteve lá: Naire Valadares, Inácio França e Gerrá, eles lhes contarão muito mais, pois não tenho a pretensão de supri-los. Quase como a pegar as "migalhas" de um banquete, ficam estas palavras minhas. Porém, amanhã, quando eu acordar para mais um dia, vou saber que mais um casal está andando de mãos dadas neste mundo. E isto é maravilhoso!

Mais uma vez, obrigada, Silvinha, pela generosidade e perdão por este enxerimento.

Toda felicidade para Samarone Lima e Sílvia Goes!


Magna Santos

sábado, 17 de outubro de 2009

EPIDEMIA

Tempos atrás, após um comentário de Hérlon do Arqueologia da Alma sobre gostar da minha "veia poética", fiquei pensando sobre minha saúde artística (se é que posso chamar assim, mas por falta de nome, fica este mesmo). E, pela falta de inspiração e de tempo, nas quais estou mergulhada nos últimos dias, só me resta uma confissão: a minha veia encontra-se obstruída.

Acabo de visitar o Arqueologia e percebo que o mal foi igualmente confessado pelo autor do blog. Vou ao Inscritos em Pedra e o Josias encontra-se mais silencioso que a caricatura de um psicanalista. Ana Cláudia, do Ninho da'Ninha, está Lúgubre desde o dia 15 de setembro. Até o Samarone, que parece inesgotável nos assuntos, recentemente declarou-se sem inspiração. Então tiro a conclusão fatal: trata-se de uma epidemia.

Corram, portanto, aqueles que ainda não se contaminaram. Defendam-se como puderem, porque o caso é sério. Desse mal, creio, alguns já sabem do antídoto, mas a maioria não. Já ouvi falar que essa tal de inspiração é besteira, que escritor que é escritor não precisa da dita cuja, o negócio, dizem, é transpiração. Porém, isto só agrava minha situação, uma vez que não tenho essa petulância de me dizer escritora. Assim, confesso aos quatro ventos: preciso de inspiração, até porque transpiração em si não me tem faltado.

Enquanto meus colegas de infortúnio não me derem a solução, quero mesmo é encontrar um doutor-das-veias-poéticas-obstruídas para me fazer um cateterismo ou angioplastia urgente. Pagarei com letras e palavras serenas à vista, se achar melhor, pois a prazo também me custa. Não pedirei desconto ou regalias, só uma coisa, pelo amor de todos os poetas: deixe-me ir para casa logo. Perambular sem rumo, como estou agora, dá-me a sensação de que não sei para onde ir. Sim, porque estar com essa obstrução, acarreta tais sintomas: perder o rumo de casa, estar sem bússola e com uma venda amarrada nos olhos.

Contudo, a brisa, o vento e a luz que teima em penetrar na escuridão sinalizam que estou encontrando o caminho de volta. Em breve, chegarei. Chegaremos, amigos.

Magna Santos

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

PROTEÇÃO NA BIENAL

Ontem fui prestigiar uma amiga no lançamento de um livro, no qual ela é co-autora. Cheguei cedo à Bienal, porém atrasada para assistir ao debate coordenado por Samarone Lima. Quando vi aquela cabeleira, quase lamentei não ter levado a cajuína que prometi a este cearense de coração pernambucano. Fica novamente pra próxima, Sama, acho que não seria uma boa ideia, em meio aos livros, oferecer bebida. Na verdade, acho que seria, mas tenho que ter alguma desculpa.

Cheguei de fininho, sentei-me ao pé da porta, sorri e acenei pro cabeludo sorridente de caderno e caneta nas mãos. Enquanto os outros falavam, ele não parava de escrever. Como escreve, Deus do céu! Lembrei do que ele diz nas suas crônicas e imaginei a tortura que seria se acabasse a tinta da caneta.

O debate sobre literatura na periferia era de motivar sorrisos. Gente simpática, cada um contando sua entrada no mundo da leitura. Todos de um jeito, desfilando motivos, mais que isso, transbordando o prazer de ler. O fundamental era o que eles estavam mostrando com esse prazer despretensioso: o envolvimento de todos com os livros. Meu pensamento foi longe e fiquei vagando pelos becos, onde se tentam marginalizar cabeças curiosas. Ali eles traziam bons argumentos para prender ou satisfazer as curiosidades, despertar interesses...sementes literárias derramadas aos montes; era isto o que Gabriel Santana (PE), Sergio Vaz (SP) e Sacolinha (SP) traziam. E traziam com a prática.

Não sei bem como terminou, terei que esperar a próxima crônica do Estuário para conhecer o final desta história. Com certeza, será minuciosamente contada, tendo em vista as anotações do coordenador. Lamentei, de fato, não ter também papel à mão, pois as frases que ouvi foram preciosas. Chegada a hora das perguntas, era chegada também a hora do lançamento do livro: "Vivenciando Penas e Medidas Alternativas" pela Editora Bagaço. Hora de partir. Ainda tive vontade de perguntar onde saber mais, ou como era salvar gentes, plantando palavras, mas não sei fazer nada na pressa. A melhor alternativa, portanto, foi sim matar o meu próprio desejo de prestigiar uma amiga. Além disso, participar de um lançamento já havia virado questão de honra, após eu perder dois que desejei muito ir, o último: Viagem ao Crepúsculo. Segui então toda feliz para abraçar amigas preciosas.

Confesso que ainda me sobra muita timidez para certas ocasiões, sou capaz de trocar de lugar com o garçom para ter onde botar as mãos; assim, foi providencial ficar de máquina fotográfica em punho para clicar todos os sorrisos possíveis, sugerir poses, exagerar na repetição de fotos etc. Acabei o evento mesmo foi conversando acocorada ao pé de um puf, pois o cansaço me pegou de jeito. Saí com alegria sobrando e um livro me faltando: Vivenciando Penas e Medidas Alternativas. Sim, isto mesmo. Só com amigos podemos ir a um lançamento sem comprar o livro, mesmo tendo que aguentar a mangação e todas a piadas possíveis. O livro, claro, é muito bom, porém a área fica longe da minha prática, mesmo que esta 'minha prática' tenha sido uma 'medida alternativa' muito particular.

Restou mesmo foi a sensação de que na bienal, assim como na vida, alguns temas se encontram, mesmo que aparentemente distintos. O trabalho com a literatura, mesmo que despretensioso, é uma bela e poética “medida alternativa” de viver a comunidade, de transformar consciências, de colocar o cidadão senhor do seu próprio eixo. Realmente, Samarone, “um jovem com livros nas mãos, anda mais protegido”.

Magna Santos

* VII Bienal Internacional do Livro de Pernambuco. Será até o próximo dia 12. Quem puder, vale muito a pena, está super super legal.