Ah, Deus do céu! Quantas vezes preciso acompanhá-la em uma aula de natação para aprender tanta coisa. Minha filhinha do coração, sobrinha amada, é assim: quando chega, todo mundo sabe, não porque faça barulho, mas porque ilumina a todos e cumprimenta verdadeiramente: "_Tia Paula, cheguei. Esta é minha tia. Tia, esta é tia Paula" - falando à professora já na água. Apresentações feitas, chega a hora de entrar na piscina. "_Chegou atrasada, né, mocinha?".
_ Rápido, tia. A touca.
_ Agora você tem pressa, né, florzinha? Tenha calma, preciso te ajudar direito.
Minhas mãos atrapalhadas não coordenam o cabelo na cabeça ansiosa. Vários fios de fora.
_ Ai, meu Deus! Assim não, tia.
A professora interfere:
_ Tenha calma, vou te esperar. Venha que eu te ajeito.
Dando, então, o certificado para o meu péssimo jeito de colocar um cabelo dentro de um touca e a senha para ela estar lá num pulo: "scabum!".
Respiração coordenada com braços e pernas, ela ía. Uma, duas, três... Na borda sempre confirmava se eu olhava e lá estava eu: polegar para cima, sorriso aberto e vontade de nadar também.
"_ Voltem de costas". E lá ía ela, junto com os demais. Ao vê-la ali tão linda, tão feliz, não tem como não estar também, não ser. E ao olhar a data, inevitável não lembrar que, há 6 anos atrás, o seu peito foi aberto pro coração ser consertado, enquanto o nosso permanecia espremido, apertado, suspenso. Não havia uma copeira, faxineira, médico, enfermeira que não saísse ouvindo um "obrigada" dela. Doze dias de internamento, doze dias de agradecimento; finalizou com todos nós de mãos dadas, caminhando no estacionamento do Hospital Português e cantando: "eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou; pararatibum, pararatibum...".
O seu coração nos fez prestar mais atenção ao nosso e ainda hoje faz:
_ Tia, ele está com fome. Você tem um biscoito?
Assim ela aponta para o que já corremos o risco de ver como banal: a fome alheia.
Próximo mês, fará 11 anos. Já falei dela aqui e este antecipa os parabéns para o que, na verdade, sentimos cotidianamente com sua presença. O tempo passa ligeiro pros pequenos. Se antes os tínhamos como bebês, rapidinho os vemos andando, pulando, nadando... Feliz, portanto, aquele que pode aproveitar cada fase, acompanhando-os de perto.
Feliz sou eu por tê-la por perto. Por isto sempre lhe repito o que disse na borda da piscina:
_Tenho muito, mas muito orgulho de você, amor da minha vida! Eu te amo!
Magna Santos