Assim, para não estourar também, vou me arriscar a mostrá-la em Sementeiras. Digo me arriscar, pois não tenho a autorização do autor, que tem suas reservas, assim como eu. Eu, que nunca publiquei texto de ninguém aqui, hoje abro uma exceção e me arrisco. Desculpe a audácia, meu irmão, mas sua muda é obra-prima, talvez seja importante a partilha. Se não quiseres, excluo na hora. Uma coisa te digo, meu cumpade: sou totalmente suspeita e também estou com muitas saudades. Aí vai a muda que já chegou em flor:
SAUDADES
Saudade de vocês, de gente que se gosta por se gostar, pelo único interesse: o bem-estar do próximo. Saudade de conversar, de dizer o que sinto, de ouvir o que preciso, goste ou não. Saudade de vocês, dos conselhos com compromissos, dos risos sem compostura, da alegria de ter estado junto em situações cômicas e difíceis, sempre lembradas com alegria.
Saudade de vocês, saudade é bom e faz valorizar até coisas inumeráveis, inestimáveis, coisas mágicas, coisas reais, com sabor de café e cheiro de jasmim-laranja, de balanço de rede ou de firmeza postural dos quase centenários bancos do alpendre velho. Ah, alpendre velho, onde me sento com um velho com a disposição de menino e me aconselha, enquanto balança a cadeira e se queixa do inverno.
Saudade de vocês, quando vejo um outro Tio se emocionar ao ver que aumentaram os casais de campinas. Não há dinheiro que me pague as manhãs de domingo naquele alpendre velho, onde pisou um patriarca lunduzento que deixou uma herança de carater indiscutível. Onde eu selava o banco e me imaginava pegando gado no mato, ganhava vaquejadas e me fazia também ser vaqueiro, embora minha professora dissesse que só podia ser médico ou bancário.
Saudade de vocês, de uma redezinha amarela, onde eu dormia na sala perto da rede de Bá. De uma casa onde eu tinha uma Tia que eu dizia gostar mais do que a minha Mãe. E a minha Mãe dizia que era pra eu gostar mesmo!
Saudade de vocês, ao lembrar da prima de cabelo de índia e de um primo da bicicleta, do gravador e de uma máquina de tirar retrato (o herói de botas), que eu não sabia se eram primos ou irmãos, pois quantas vezes eu ouvia meu Pai dizendo que eram seus filhos também!
Saudades que foram parar acho que num caminhão azul lá... no "ricifi". "Que quando eu crescer eu vou puntá eles!"
Saudades de vocês, eta vocês, vocês que só aumentam e aumentam minhas saudades. Primeiro com a primeira notável que me adotou como primo também. E dela surgiu um nem tão pequeno, mas um grande apegado ao nosso alpendre velho e outra pequena coração valente, que me faz sentir o melhor médico do mundo. Saudades e como é bom ter saudades, saudade que me dá saúde.
Então acho que somos soldados, talvez a solda da família, assim nos uniu, fazendo uma engenharia onde só funciono na dependencia de outras peças. Acho que a saudade é o lubrificante para "eu-peça" possa funcionar melhor.
Halano.