Levanto os olhos e vejo o bem-te-vi solto no céu; brinca com o vento, que roça suas asas. Paira, plana e solta o gogó; com a chuva, busca abrigo. De longe, ainda escuto sua canção, outro lhe responde, depois outro e outro. Tenho uma atração por este canto e eles conversam numa intimidade que contagia...quase respondo, mas são seis horas da manhã, melhor não, os vizinhos não entenderiam. O céu rapidamente é pintado de cinza e a chuva cai esfriando o tempo. A canção continua.
Junho junho...das chuvas, do tempo molhado. De Santo Antônio, São João, São Pedro. Do pé na estrada, da mala lotada de alegria, de saudade, de vontade de estar junto, de homenagear quem merece, de escolher a roupa do batizado, de água na cabeça, de afeto renovado, de rede no alpendre, de manhã cedinho com o cacarejo das galinhas, o gado no curral, os passos no terreiro, o frio cortante que desce do Araripe para nos encolher. Junho dos tios, dos meninos de vovô, do velho de ontem que vive nas palavras dos filhos, netos, bisnetos e tataranetos.
Ah, junho! Bem-te-vi, junho!
Uma sonha em alimentar os pintos, outro em rever os primos, uma em deitar na rede e conversar até a boca secar e assim vamos vivendo até chegar. Não dispensarei acender a fogueira com ele, pena é não me esperar, tenho chegado atrasada demais nos últimos anos. Darei as voltas para queimar as mazelas do semestre e aquecer a esperança pro próximo. São João abençoará. Olharei para o pé de jasmim, lembrando de quem esteve lá. Ouvirei as mesmas histórias e as gargalhadas vão soar como da primeira vez, como ressoarão de um jeito antigo, escutando as novas lorotas. Me assombrarei com o crescimento dos meninos, com o braço quebrado de um, com a esperteza do outro, com o sorriso de sete meses de quem terá o cocoruto banhado em meus braços.
Sim, lembrarei de todos os apelidos, não esquecerei de nenhum. Os meninos de vovô chorarão por causa deles mesmos, chorararemos juntos, igual cascata. Já não posso pensar em mais nada. Trabalhar tem sido difícil, escrever, uma repetição e como sou repetitiva, meu Deus!
Enfim, nem sei de mim, dos próximos dias, das linhas que Sementeiras contará. Só sei que se as postagens atrasarem, paciência, estarei em dia com minha felicidade. Quando voltar, quem sabe, contarei. Nem sei...
Se não escrever até lá, bom São João! Que o corajoso João Batista abençoe a todos!
Magna Santos