Acostumei-me a responder com raiva às minhas tristezas. Parada num abismo ou numa encruzilhada, deparo-me com incômodas faltas próprias, falhas compartilhadas e cobranças diversas. O cansaço se espalha invasor, tomando territórios, antes destinados ao sonho, ao devaneio criativo. A vontade de escrever não resiste ao peso nos ombros e nos olhos. Necessário trincar os dentes, não apenas para aguentar o tranco, mas para ter forças. A ATM já reclama, meu coração reclama, minha mente também. Assim, melhor parar de queixumes e olhar de frente o abismo...conversar com ele. Foi então que ouvi ao meu lado (quando os ombros pesam, teimamos em só olhar para baixo...ilusão):
_ Magninha, tu podes ir ver o Lenine no dia do meu aniversário? Quero os meus amigos comigo.
_ Claro.
Fomos lá: uma penca de amigos e o restante dos milhares sentados em suas poltronas à espera da atração da noite. O congestionamento rendeu mais de meia hora de atraso, porém as luzes foram apagadas e o palco ganhou outro charme, outra cor. Difícil explicar o que se passa no coração, quando constatamos aquele ganho inusitado, aquele estalo que diz: "meu Deus, é isso! Estou no lugar certo com as pessoas certas".
O sorriso de minha amiga valia dez shows e fiquei pensando que algumas pessoas realmente nasceram para serem pontes, fontes de união, de paz, de alegria. Isto dá uma esperança danada que renova, que trata, dá um chute de bico nas reclamações.
"Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa"
O pernambucano arrepiou a cearense:
"Tá relampiano
Cadê neném?
Tá vendendo drops
No sinal pra alguém"
Das faltas que me sobravam, das cobranças que me atordoavam, uma necessidade ele lembrava, quem sabe, uma sugestão:
"Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara..."
É mesmo, Lenine, muito rara. Por isto, aproveito para comunicar: eu vou é na banguela, amigos.
Magna Santos
*descer a ladeira sem engate de marcha nem força, só no embalo do vento, da descida.