segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

FUTURO

Futuro é acordar
De manhãzinha
E ver as sombras

Mudando de lugar ao longo do dia


Magna Santos

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

TIJOLO POR TIJOLO

Costumamos receber emails de mensagens, emails assombrados, emails até evasivos, como somos, quando não queremos falar. Recebemos emails todo santo dia de gente à procura de um desconhecido, desaparecido, doente talvez. Recebemos emails, porque as caixas de correio, faz tempo, só servem para cobranças.

Agora, emails para dizer que está feliz, que saiu com o pai, andou a cavalo, estendeu seus olhos no horizonte e viu que a vida é boa...

Que saiu para almoçar com a família e gostou da comida e da surpresa que sentiu nas pessoas...

Email contando os planos sobre o plantio, sobre as compras na cidade e as paredes da casa nova que começa a erguer-se...


_ Em fevereiro - revela - provavelmente a casa estará coberta.

Eu de cá entendendo que muito mais está a se cobrir, a se erguer...tijolo por tijolo, telha por telha.


Como sobra, terás a paisagem do alto de tua casa, brincarás com os meninos à tardinha e pela manhã. Dormirás na rede com ela e acordarás com o menor te fazendo cócegas nos pés. Depois disso, teu maior já te esperará para contar a última descoberta, respondendo sem pestanejar de que cor sãos os olhos teus.


_ Teu afilhado não pára, está andando tudo tudo.
_ Eu sei, cumpade, eu sei - não sei como, mas sei.

E sei também que muito email desse irei receber. Emails e telefonemas, mesmo que te chamem no meio da conversa para atender o filho do morador que acabou de furar o pé no arame farpado.

Sim, doutor, eu também sei que este caminho não tem volta e mais tarde, ou mais cedo, sempre nos encontraremos, quando então descobriremos que nunca estivemos separados.


Magna Santos

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

NÓS

Soube notícias de um mundo temerário: notas de um mundo velho, passageiro, redentor, notas de um futuro que já chegou. Uma senhora é segura por uma corda, enquanto é mordida por um cachorro...latidos engolidos por uma enxurrada. Soluços estáticos ao televisor e o replay de uma cena aglomera olhos ansiosos. Notícias de um velho mundo...

Tremi ao saber e ver uma menina de quatro anos dizer com sabedoria: "o rio levou minha chupeta...levou tudo!". Chupeta que no meu interior leva o nome de "consolo". Substituindo a palavra, o sentido traz o ponto certo ao drama.

E o nó na garganta me levou a sentir-me também água, melhor, gota. Foi quando olhei o cajueiro e seus nós também me mostraram outra serventia, transformando-se em marcas nos galhos, apropriadas a um armador natural, sem o range-range que acompanha costumeiramente o balanço em qualquer alpendre.

Recordei ainda uma conversa de irmãos sobre lembranças de uma infância marcada por poucos encontros e fortes despedidas. Mais nós.

Cogitações, constatações...e a botânica parece associar a variação do número de nós ao crescimento de uma planta, não sei bem. Mas bem sei que muitas vezes somos feito elas - as plantas. Nosso desafio é transformar os nós em laços no momento certo.
...
Ou, quem sabe, aproveitar a riqueza da palavra e transformar o substantivo em pronome.


Magna Santos