segunda-feira, 30 de maio de 2011

ZERO

Zero é nada
E mais um pouco

Ou o tudo calado
É o improdutivo
Ou produtivo
Desdenhado

Zero de comentários...
Zero bronca

Silêncio que afeta de acordo com o dia

E o substantivo vira verbo:
Zerei tudo
Só não zero o calendário.


Magna Santos

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PERCURSO

Estudo a sonoridade primordial
Aquela que identifica sussurros, choros, sorrisos...
Um Eu inteiro
Inteiro?

Estudo a melancolia das ruas
Contida em quatro paredes
E um coração

Estudo o encanto
Que se instala sorrateiro
Quando se compreende
Se enxerga
O até então ofuscado
Pelas pupilas dilatadas do medo

Estudo
Enquanto não posso mudar o destino...
Ao menos assim
Terei passado o tempo
Que ainda não chegou
Futuro prometido
Pelo suor
Pela insônia
Pela insistência
Pela vida


Magna Santos

quinta-feira, 19 de maio de 2011

APELO À CHUVA

Fui acostumada, quando criança, a te esperar com ansiedade, te festejar com alegria, sapateando nas poças que fazias no meu quintal. Corria atrás de bicas para aflição de uma mãe cuidadosa, que temia uma gripe na filha pequena.

Com tua chegada, meus tios sorriam, porque era certeza de colheita farta e mesa abastecida. Eras, portanto, bem-aventurança.

Hoje, longe do meu torrão e já crescida, fujo de ti. Vejo-te da janela e dentro permaneço, indiferente à variedade de biqueiras que ostentas nas casas vizinhas. Sem gripe, com saúde, restou-me algum medo por te ver alagando ruas, vilarejos, cidades inteiras. Inundas até as famílias que, junto com tua água, afogam a esperança e o sossego.

Preocupa-me tua presença como quem hospeda um amigo à beira de um colapso. És e não és bem-vinda. És e não és querida. Uma certa tensão impera no ar.

Porém as vozes alegres dos meus distantes dão-me notícia de que também os visitastes. Novamente: colheita garantida, suor respondido.

Então, daqui te aceno como quem te dá mesmo um tchau: vai embora para onde és bem vinda, vai para onde és sinônimo de bem-aventurança.


Magna Santos

segunda-feira, 9 de maio de 2011

REMOTO CONTROLE

Muitos nessa altura buzinam anunciando o time vencedor. Ela, que acaba de ler o Poema em Linha Reta do Pessoa, não se identifica com o buzinaço, nem tampouco com o silêncio dos derrotados. Não se identifica com esse gosto pela disputa, embora, muitas vezes, se comporte como uma briguenta contumaz.

Ah, se soubessem do aperto que sente no peito, certamente teriam piedade dela. A raiva indigesta perambula sem achar abrigo, porque não há de encontrar no seu coração benfazejo que se angustia por não poder dominá-la.


A náusea a consome há dias. Vomitou injúrias acumuladas na hora errada. Foi julgada como fútil e desequilibrada. Perdeu a razão. Entristeceu-se tanto que teve mais raiva ainda. Defesa de quem viveu na selva por muito tempo. Hoje não vive mais, porém guarda-lhe a experiência.

Quando terá sossego não sabe. Quando pensará antes de falar...já fez isso tantas vezes que pensou que podia ousar. Errou. Pecou pelos extremos. Foi de um polo a outro num átimo que lhe custou a paz.

Resta-lhe o controle nas mãos. Há de mudar de canal. Há de sintonizar com o dia, com o sol e o tempo bom. Chega de trovoadas dentro do peito.


Magna Santos

quinta-feira, 5 de maio de 2011

COISAS...

Há determinadas coisas
Capazes de serem expressas apenas na poesia...
E eu nem sei dizer quais
Até as chamo de coisas
Mas não existem como tais.


Magna Santos

segunda-feira, 2 de maio de 2011

RIMA E SOLUÇÃO

Olhos estupefatos presenciaram duas torres irem abaixo como prédio de dominó. Milhares de pessoas mortas por qual objetivo? Tempo das cavernas?
Milhões de pessoas se aglomeram comemorando a morte de alguém. Mesmos olhos estupefatos presenciam a cena. Tempo das cavernas?
Não. Tempo em que a dor ainda tem valido mais que o amor.

OsAMA
ObAMA
Rima que atrai
Rima que revela
O ainda não buscado

Somos todos rimas de alguma solução, querido Drummond.


Magna Santos

domingo, 1 de maio de 2011

BRISA

Hoje senti uma paz inominável
De que não quero viver em ti
Sim
Não quero
Pasmem todos os corações
Praguejem todas as amigas
Não quero mais
E não sei explicar o que aconteceu
Talvez o silêncio que me fala
Talvez a dúvida que me dá certeza
De que não és mais

Teu tempo passou em mim

Uma paz...
Como a sementeira que só despeja a semente
Para dias futuros nascer
Como a gota humilde que cai da chuva
Em noite de inverno
Como a mãe que se despede da cria
Sabendo-se apenas mãe
Não amor eterno

Fui
Passou
Meio que deixando rastro
Pegadas ainda fortes
Pistas de algo ainda fresco
Ainda perto

Passou


Magna Santos