quarta-feira, 27 de julho de 2011

VENTO

O vento fez festa no dia.

Vento de agosto ainda em julho, despenteando as pessoas na rua. O cabelo molhado pesa na sua brincadeira, mas desassossegado tenta e consegue.

O vento também levantou os jornais de quem ainda tentava dormir na calçada, desmantelando a madrugada, já manhã, de quem sonhava em meio a pesadelos reais.

Vento de agosto em julho anuncia uma chuva fina que cai só para sujar os vidros e melar a tarde de quem esperava o sol.

Vento que sopra pra longe também os desgostos de quem se destempera, porque a noite veio cedo demais.

Vento sopra pra longe e traz para perto o ar renovado. Para dentro dos pulmões daquele que conta piada, como quem conta verdades ancestrais. Pulmões arejados com gargalhadas antigas.

Assim fica fácil ser feliz sem motivo...

Esse vento que leva e traz...


Magna Santos

quarta-feira, 20 de julho de 2011

MURO

Dez minutos de atraso foram suficientes para perceber o quanto o atraso é permanente na sua vida. Ela estava sempre à espera, disfarçadamente controlada, como um bombeiro a dois passos de uma bomba. Não importa se o coração quase sai pela boca, importante são as mãos não tremerem, o juízo concatenar ideias, as pernas andarem. Para onde?

Faz anos permanece em círculos. Vive sentada num muro imaginário, onde só os passarinhos a visitam e, vez ou outra, uma borboleta distraída.

Atende pelo nome de fulana, sem sobrenome nem nada que a possa expor. Tem que se preservar até a última gota...de sangue, esse mesmo que também não sabe o tipo e que passeia nas suas veias, graças ao sistema autônomo.

Autonomia é um tabu que aprendeu quando criança. Disseram-lhe que não sabia de nada e ela acreditou. E até hoje fica sem saber e acreditando piamente que não pode, não merece e não vai. Por isto, fica, criando raízes ao invés de asas.


Magna Santos

segunda-feira, 18 de julho de 2011

DIMASLINS.COM

Há dias atrás tomei um susto ao telefone:

_ Magna, vou acabar com o Estradar.

Era Dimas Lins, com o qual já me acostumei a tecer ricas conversas sobre escrita, projetos, sites, papos sempre envolvidos em espontaneidade e disposição.

Julguei, num átimo, que ele pararia de escrever, tendo em vista acompanhar um pouco os momentos de relativa inquietação, decorrente da sua falta de tempo para a escrita, junto com a borbulha de projetos na cabeça, interrogações e reticências que nunca chegavam a um ponto final. Logo respondi no reflexo, com a habitual delicadeza que só tenho com os amigos:

_ Tu não inventa não, Dimas.

Ele sorriu discretamente e me explicou do que se tratava. Confesso que sou meio tonta para assimilar ideias que venham a acabar com algo que gosto muito, como é o caso do Estradar - irmão um ano mais velho do Sementeiras. A lição do desapego ainda estou a aprender e demorei horrores até visualizar a proposta de Dimas que, mais uma vez, dava um banho de novas e salutares ideias.

Assim, tenho a honra de comunicar a mudança do Estradar para um site inovador, cheio de um traquejo e criatividade próprios do dono. Estradar se mudará de mala e cuia para Dimaslins.com, um site onde a literatura continuará sendo aperfeiçoada, nutrida, detalhada, esculpida por mãos trabalhadoras e dedicadas: as mãos do nosso Dimas. Lá ele apresentará muito mais do que crônicas e contos, acrescentará novos projetos, sempre instigantes e, de quebra, o leitor entrará em contato com um talento que ele pouco verbaliza, mas que esbanja discretamente, quando cria o design dos blogs dos amigos, como foram o caso do
Estuário, Inscritos em Pedra, Blog dos Perrusi, Torcedor Coral e...vem mais por aí. Como criar e agregar é o seu forte, ele ainda propõe a blogs de qualidade literária, já existentes, conectarem-se, formando uma rede, que venha a oferecer aos leitores letras variadas, numa espécie de ciranda, onde os respectivos autores se darão as mãos, "trocando" publicações, divulgando também os endereços envolvidos.

É por estas e outras que cada ligação que recebo do Dimas é um curso intensivo. Aprendo que qualidade é o motivo primeiro, crescer, o segundo. Disto temos a noção do que o novo site nos trará. Se o antigo Estradar era excelente, o Dimaslins.com, certamente, será um acréscimo necessário ao ciberespaço para as pessoas que buscam qualidade.

Portanto, sem mais delongas, fiquem com mais este endereço:
http://www.dimaslins.com/

Magna Santos

terça-feira, 12 de julho de 2011

CÉU E TERRA

O céu desce à terra todos os dias
Coberto de asas
Esfumaça-se nas nuvens
Aconchega-se nas flores
E pousa entre colinas,
Mares
Terras

Sim, o céu desceu à terra
Um novo bebê nasceu
E outro
Após outro…
E outro ser subiu
Para descer depois que criar asas

O céu desce à terra
Por entre fios de telefones
Emails
Portas abertas
Sorrisos de amigos
Fraternos
Camaradas

Céu
Terra

Faces do sorriso de Deus.


Magna Santos

Inspirado na escrita do poeta Domingos Sávio do blog No Toitiço

domingo, 10 de julho de 2011

FRUSTRAÇÃO

Frustração é encontrar uma vaga para o carro
Estacionar
Tempos modernos...
Vagas lá fora:
Faltas lá dentro


Vontade represada
É dar só um abraço
Ao invés de quatro.

Para os amigos Domingos Sávio, Edgar Mattos, João Carlos de Mendonça e Arsênio Meira Junior.

Magna Santos

domingo, 3 de julho de 2011

A POESIA E OS CINCO ANÕES

Trouxe os cinco anões: Zangado, Soneca, Atchim, Dengoso e Mestre. Ainda bem que trouxe o Mestre, não saberia o que fazer sem ele. Estão todos aqui na minha cabeceira, nesta ordem e estáticos à espera de que lhes fale da Branca de Neve. Mas ela está lá na sala, olhos vidrados, fotografando e filmando, sem ligar se estou aqui com sono, sozinha, escrevendo estas poucas linhas, antes de chamá-la novamente para brincar.

Minhas letras parecem poesia? Não são. Neste exato instante, a poesia está na minha sala, em pessoa. Daqui a pouco brincarei com ela de adedonha, dominó e o que mais quiser. Amanhã a poesia viaja e me deixará por inescapáveis 15 dias. Terei de rebolar para vê-la outra vez. Diz que me liga da estrada, me dirá que está com saudades, informará que me ama com uma emoção de choro entalado na garganta, porém, como nada ela deixa preso, logo soltará uma lágrima, assim como um grito de alegria:

_ Tia, foi massa, tia! Muito legal, mãe! - (é, a poesia anda a me chamar de mãe)

E aí eu a ouvirei contar como foi o dia, o passeio nas dunas, o mergulho na piscina ou no mar.

Mas agora, a poesia acaba de entrar no meu quarto, chega com olhos curiosos, ouve o que tenho a dizer e gosta, porque sorri. E concluo, num segundo, que ela...ela sempre estará aqui.


Magna Santos

sexta-feira, 1 de julho de 2011

SILENCIOSO

Liguei para o poeta
Não atendeu.


Silencioso
Como quem escreve uma tese
Que ainda não sabe
Demora a saber...

Só sei que ressuscita de tempos em tempos
Como se nada tivesse acontecido
Ou tudo
Quem sabe?

E volta a inscrever
Seus versos certeiros
Sedutores

Flerta com todas as palavras
Adere
Quando vê uma exclamação
Que não usa
Mas adere
...
Em nome da vírgula
Da interrogação.


Para Josias de Paula Jr. do Inscritos em Pedra - o nosso Poeta Geó.


Magna Santos