segunda-feira, 24 de outubro de 2011

QUANDO PONTES SALVAM*

Os noticiários inflamam a esperança com manchetes vermelhas
Antes da ponte
Aglomeram-se sirenes e curiosos

Desejosos por saberem do desconhecido

A textura do ar revela mais que oxigênio

A cor das águas denota o sofrimento do peixe

Sim, progresso, sim


Enquanto isso lá no Coque

Pessoas teimam em viver

Ao redor de vários livros

Refazem o percurso perdido no grito

Agora se tem carinho

Atenção
Afeto...

E a menina-ponte se afeta
E eles se apertam no chão para ouvir melhor
Não

Sonhar melhor

Não

Sentir melhor


Descobrir, enfim, que o final
é sempre feliz.

Para Luna Freire do Palavras-pontes


Magna Santos

*a foto foi emprestada do blog da Biblioteca Popular do Coque

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

MILAGRE

O espetáculo começava todo santo dia, porém algo especial marcou presença naquele raiar de sol. O circo estava com as portas abertas - sua tenda aberta - sem restrições. A cidade foi toda convidada: "venham todos, venham todos! O espetáculo precisa começar!". Repetidamente, uma voz infantil proclamava estas palavras em um lento carro de som. Era de um encantamento e felicidade que em cada rua, vilarejo, ponte, igreja, beco, o som era acompanhado de soluções:

Uns praticavam sorrisos
Visualizavam gratidões.
Mendigos nutriam-se de esperança
Policiais, de paz.
Empresários-lentidão.
Encarcerados-alegria.
Bombeiros-tranquilidade.
Meninos-de-rua-afeto.
Piratas-tesouros-espontâneos.
Mães/pais-conclusões...

O mantra persistente ecoava: "venham todos, todos venham!".

E foi assim que, no final do dia, estavam realmente todos. Juntos. Presentes. Unidos.

E uma lágrima desceu serena pela face do dono do circo. Finalmente, ele realizava à noite, o que havia lido ao nascer do sol:

"O milagre

Dias maravilhosos em que os jornais vêm cheios de poesia
e do lábio do amigo brotam palavras de eterno encanto
Dias mágicos em que os burgueses espiam,
através das vidraças dos escritórios,
a graça gratuita das nuvens". (Mário Quintana)

Magna Santos

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

FRESTAS

Lacrei as portas
Fechei as janelas
Visguei fechaduras
Apaguei luzes
Não saí mais

Ele entrou pelas frestas
Abriu as cortinas
Aqueceu minha casa
Leu minhas entranhas
Soube tudo de mim

Tanta coisa de uma vez
Tanta coisa...

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Hoje não acerto mais o trinco
Estou à espreita
Com medo
(Desejo)
Que ele volte

Já desarrumei as gavetas
E voltei a arrumá-las uma porção de vezes
Me ocupo de pequenas tolices
...
Quem sabe, assim, eu esqueço
Quem sabe
Assim
Esmoreço


Magna Santos