Não me escreva cartas velhas, cheias de cera antiga. Nem ouses me dizer palavras caducas. Faz tempo que não escuto nada além da minha própria voz...agora penso o que vou fazer com este sonho, este pesadelo. Não tenho alternativa.
A mala continua na cozinha, por falta de apetite e, talvez, por excesso de vazio. Ao menos, de lá, lembro da última vez que nos demos as mãos. Sim, foi naquele dia em que resolvemos rever todas as fotografias. Nossos pais, avós, todos lá. Amigos, filhos sonhados, presentes. Viagens, casas...tantas que habitamos. Tantas, tantas! Cadê nós? Onde nos perdemos? Onde? Ah, eu não sei... mais uma coisa que nunca hei de saber. Talvez mesmo não queira. De que adiantaria? Continuarias me acusando pela tua infelicidade. Continuarias me sentindo distante. Eu, logo eu, que nunca dormi sem te desejar boa noite. Achas sempre pouco tudo que fiz. Sempre quiseste mais. Sempre queres mais.
Pois bem, esta deixo-te como despedida. Não me procures. Não mais. Não adianta ir naquele café. Não estarei mais lá. Muito menos naquele banco, onde costumávamos levar nossas dores. Não estarei mais na praia, olhando o horizonte. Nem passeando como perdido no jardim botânico. Deixo-te a esperança de encontrares plantas novas. Mas, não me procures. Sou o velho jardineiro que, em noite de lua nova, te ofereceu o antigo jasmim. Sim, tolice! Não me procures. Eu também não me encontraria mais.
Certamente, nosso amor não morreu, senão esta carta de nada falaria. Porém de que adianta um amor vivo, mas estático? Estátua viva. Isto é o nosso amor. Vivemos da graça de quem nos circunda, da generosidade dos transeuntes. Sobrou muita poeira e uma cãimbra lancinante a dizer do muito que nos esquecemos. Estátuas vivas...o que somos.
Magna Santos