quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

MARGARIDAS*

"Somos origem, filhos dessa terra. Então ninguém pode me perguntar: até que ano você morou aqui? Somos filhos dessa terra! Eu não vou perdoar nunca os branco por ter colocado, partido nosso coração, nosso território, porque quando nós tava isolado na mata, se nós morria era de velhice, quando não era mordida de cobra. Hoje nosso pajé, nós não temos mais. Se tivesse nosso pajé, taria hoje, agora, no momento dizendo pra mim: teu filho tá em tal canto. E como nós não temo, nós tamo passando por uma dificuldade" (Margarida Tenharim).

Com nome de flor, a índia desabafa a dor de mãe, antes do filho ser reencontrado momentos depois. Naquele instante a dor é dela, espelhando, na realidade, a dor de um povo. A aldeia procura aflita pelo moço com problemas mentais, perdido na mata. Filho que parece ser de todos. É assim que o índio parece sentir. Lá, naquela aldeia, ninguém 'ajuda' ninguém neste sentido cultural que nos faz colocar o problema "do outro" fora de nós e ganhamos o título de solidários, quando por ventura nos mobilizamos para participar da solução. Não, lá o problema é mesmo de todos e a solução também.

Assim, mesmo com os óculos imperdoáveis do homem branco, pude ver que, quando a dor é dividida(compartilhada), o afeto é multiplicado e a esperança também.

E minhas interrogações continuam a teimar insistentes, após ouvir Margarida:
Quantos séculos precisaremos para atingirmos a maior idade?
Para andarmos com nossos próprios pés?
Pensarmos com nossas cabeças?
E sentirmos
Sim
Sentirmos
Com o coração do outro?

Perdão, Margarida.


Magna Santos
* escrito a partir de reportagem de André Tal da Tv Record sobre a Transamazônica, com destaque nos efeitos na vida dos índios Tenharins (ver matéria). Também ler a ótima crônica de Inácio França no Caótico, através da qual tive conhecimento do assunto.

2 comentários:

Luna Freire disse...

Nossa, Magna, que bela reportagem deste Tal André... Como eu gostaria de ver mais matérias assim, que mostrasse o outro sem tantos filtros para que a gente pudesse aprender com eles... Obrigada por este presente!

Magna Santos disse...

É realmente maravilhosa a reportagem, Fabiana. Devo esta a Inácio França que escreveu sobre ela no seu blog Caótico.
Beijão!
Magna