quarta-feira, 10 de setembro de 2008

MEU POVO

Ah, que felicidade falar com alguém próximo, que se encontra distante geograficamente. De fato, essa tal de tecnologia pode ser um ganho imenso aos nossos corações. De repente, um telefonema e pronto: a distância encurta.

Descobri que Sementeiras pode virar ponte entre mim e os meus amados, situados a quilômetros de asfalto, terra batida e porteira quebrada. Porteira para sempre aberta, emoldurando o terreiro, onde, tantas vezes, 'trigueiro' respondeu aos meus apelos com um preguiçoso abano de rabo, para depois se levantar com os latidos habituais atrás do gado resistente ao sol, ao calor e resignado aos aboios inigualáveis do meu povo, da minha gente.

Meu povo, de calos nas mãos, sabe pegar com carinho uma rede para meu restaurador balanço. Meu povo que evita chorar, sem evitar a emoção. Varre o alpendre como a catar feijão na palestra costumeira, falando de quem se foi, de quem chegou, atualizando e repartindo o coração com quem está presente. Meu povo de riso alto, solto, cheio de cumplicidade e compromisso com o bem. Qualquer dia pode ser o primeiro de abril, pregando peças nos seus iguais, para logo em seguida rir às gargalhadas. Histórias que rendem dias, meses, uma vida inteira.

Assistimos aos nascimentos dos netos, sobrinhos nossos, que crescem com bravura e alegria em meio ao ciscado das galinhas, à poeira dos cavalos, ao cantar dos pintos, tão fartamente alimentados por quem chega de longe, carregando na mala um punhado de saudade para misturar com o milho, rapidamente providenciado por quem sabe alimentar a alegria de uma criança.

Sim, este é o meu povo. Alguns pequenos já escrevem 'Neto' no final do nome e parecem perpetuar algo que já está no gene, na genética familiar: a simplicidade. Quanto ela custa? Nada. Apenas um sorriso e abraço sinceros. Apenas valores semeados ao longo do tempo em terra brandamente adubada pelo bom exemplo. Exemplo de honestidade, de dignidade, de amor. Exemplos antigos, anteriormente trabalhados pelos nossos queridos ancestrais, que assistem tranquilos a colheita efetuada. Estes exemplos não morrem, não fenecem. São sementes germinadas e crescidas, as quais terão a missão de plantarem também. E assim, como diria na linguagem infantil: começar tudo outra vez.


Estas linhas molhadas vão para todos os filhos do Ludovico.
Muito obrigada por tudo.

7 comentários:

Anônimo disse...

Magna,só deu pra ler o de hoje.De pronto me lembrei de padrinho Euclides qo perguntava e o nosso povo como tá?.Este trigueiro pode ser o meu que deixei qo fui pra Recife e quando chegava dormia embaixo de minha rede.As linhas molhadas ficaram mais molhadas quando chegaram aqui.As sementes plantadas pelos nossos queridos ancestrais germinaram e cresceram pois foram adubadas e irrigadas pelo exemplo do trabalho e honestidade.Continui.ADOREI.Tichico

naire valadares disse...

Magna,
Deu para sentir o amor a terra, a família e, acima de tudo, a sua sensibilidade. Adorei. Beijo

Anônimo disse...

Estais linda,... escreves como se estivesse conversando... continues a nos presentear com tuas palavras.
Bom parar para te escutar, neste corre-corre em que estamos vivendo.
Bjo, adorei

Anônimo disse...

Ainda bem que lí este texto, sozinho, fechado no quarto do repouso médico. Mas quase fui `parar na enfermaria.
Existe um saudosismo descrito nessas linhas, com uma marca de felicidade nas formas escritas e com uma mensagem final da importancia da excencia familiar.
És uma previlegiada por conseguir tão bem colocar nas palavras o sabor dos prazeres vividos e da grandeza das coisas simples.
Na dureza do cotidiano, onde acabo de me deparar com um paciente de 3 meses vítima de mau trato pelo pai, com trauma cranioencefálico. Saíba da necessidade desdes seus textos para a oxigenação da nossa alma.
Muito obrigado por me dar o previlégio de ler o meu povo.

Anônimo disse...

Magna, parabéns pelo texto! Concordo apenas em parte com a frase "Meu povo que evita chorar". Nós bem que evitamos, o problema é que nem sempre conseguimos. Ainda bem que vc está escrevendo no computador, porque se fosse em folha de papel não iria sobrar nada de tantas linhas molhadas.
Siga em frente com a sua proposta. É assim que as pessoas se eternizam. Fico feliz de saber que faço parte desse povo.
Anna Beatriz

Anônimo disse...

Amiga,emocionante suas palavras escritas!É verdade, esse é o nosso povo sim: De garra, coragem, simplicidade e acima de tudo com muita fé e amor no coração!!! Fica com Deus... Ana Paula & Waydson!

Hérlon Fernandes disse...

A vida é uma arte. Profundo saudosísmo fluído naturalmente, porque traduz a verdade. Essas vivências peculiares mostram o quanto é importante possuir uma essência de família que nos dignifique como ser humano! Belo texto... Eu creio que o Cariri possua um encanto especial - aqui nos reconhecemos melhor!