quarta-feira, 19 de novembro de 2008

POESIA EM LÍRIOS

Os lírios espreitavam do alto a entrada dos noivos. Suspensos no ar como muitas vezes ficam nossos sonhos: a centímetros das mãos...basta um pouco de esforço e os pegamos. Lírios espalhando belezas brancas em meio as rosas das mesas.

A felicidade surgiu no salão de mãos dadas.A renda da mãe desenhou o vestido com simplicidade, elegância e beleza, dando mais um toque de amor ao já afetuoso instante. Brotavam ainda dos cabelos, singelamente penteados, pequenas flores...e a primavera se fez ali, naquele instante, naquele espaço. Tudo, portanto, um jardim bem cuidado, como diria Quintana. As borboletas, com certeza, estavam presentes, mas não as vimos; brincavam de serem invisíveis para serem apenas sentidas. E, creio, foram, pois frequentemente o noivo as acariciavam com um lenço. Todos pensavam que estivesse chorando, mas não, eram as borboletas a lhe escorregarem dos olhos.

Um casamento, uma união proclamada por uma amiga e assistida por vários.

Dias atrás, eu ousei perguntar à noiva: e a poesia? Terá lugar para ela? Ela respondeu com uma pergunta: Poesia? Hoje percebo a bobagem que fiz, pois não se precisa falar de poesia para quem já a vive. De fato, como diz o Vates e Violas, "nem tudo o que se lê, está escrito". Mas se ousamos usar palavras...:

Sim, poesia.
É o que acontece no roçar das mãos
É o que vibra com o toque das taças
É o que cheiramos na presença das flores

Poesia é libertar-se, prendendo-se ainda mais
Compartilhar emoções
Anunciá-las
Ou apenas senti-las
Tanto faz

Poesia porque falar só...
É ponderável
É quase como criança
Mostrando a aliança
Tão amorosamente escolhida e sonhada
É estar entre os iguais
Lembrando e construindo
Sonhos benfazejos

É poder abraçar os amigos
Escutando um 'eu te amo' em meio ao barulho de aplausos
É conter o choro para deixar falar
Uma amiga
É desabar em lágrimas nas felicitações
Ou contê-las, temendo não resistir

É olhar pro alto
Vendo estrelas
No lugar de lírios

Poesia é dizer um sim
E escutar um também

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

UM MÉDICO

Um médico precisa levantar
Cedo para acordar o dia

Precisa sorrir, mesmo cansado.
Precisa brincar, mesmo exausto.
Precisa sonhar, mesmo acordado.

Um médico
Só um
Para salvar vidas
Sem ataduras
Sem anestesia
Sem honrarias

Qual remédio?
O da alma
Qual lenitivo?
O sorriso
Qual escola?
A de Deus
Qual especialidade?
A humana
Qual disciplina?
Saber, acreditar e agir

Com amor
Com bondade
Com certeza
Mesmo na dúvida

A bola de gude
Salta a correr pela rua
Do menino
Que há pouco sufocava

Quantos médicos para salvar nossas vidas
Para acordar a esperança
Para esquecerem de si mesmos
Para ficar na lembrança

Quantos obrigados lhes faltam?
Quantas recompensas esquecidas?
Quantas lágrimas escondidas
No quarto da solidão
Quantos soluços derradeiros
Amparam com suas mãos?

Benditas mãos
Preciosas!


Que possam ser cada vez mais guiadas pela humildade e pelo Amor Maior!