Os lírios espreitavam do alto a entrada dos noivos. Suspensos no ar como muitas vezes ficam nossos sonhos: a centímetros das mãos...basta um pouco de esforço e os pegamos. Lírios espalhando belezas brancas em meio as rosas das mesas.
A felicidade surgiu no salão de mãos dadas.A renda da mãe desenhou o vestido com simplicidade, elegância e beleza, dando mais um toque de amor ao já afetuoso instante. Brotavam ainda dos cabelos, singelamente penteados, pequenas flores...e a primavera se fez ali, naquele instante, naquele espaço. Tudo, portanto, um jardim bem cuidado, como diria Quintana. As borboletas, com certeza, estavam presentes, mas não as vimos; brincavam de serem invisíveis para serem apenas sentidas. E, creio, foram, pois frequentemente o noivo as acariciavam com um lenço. Todos pensavam que estivesse chorando, mas não, eram as borboletas a lhe escorregarem dos olhos.
Um casamento, uma união proclamada por uma amiga e assistida por vários.
Dias atrás, eu ousei perguntar à noiva: e a poesia? Terá lugar para ela? Ela respondeu com uma pergunta: Poesia? Hoje percebo a bobagem que fiz, pois não se precisa falar de poesia para quem já a vive. De fato, como diz o Vates e Violas, "nem tudo o que se lê, está escrito". Mas se ousamos usar palavras...:
Sim, poesia.
É o que acontece no roçar das mãos
É o que vibra com o toque das taças
É o que cheiramos na presença das flores
É o que acontece no roçar das mãos
É o que vibra com o toque das taças
É o que cheiramos na presença das flores
Poesia é libertar-se, prendendo-se ainda mais
Compartilhar emoções
Anunciá-las
Ou apenas senti-las
Tanto faz
Poesia porque falar só...
É ponderável
É quase como criança
Mostrando a aliança
Tão amorosamente escolhida e sonhada
É estar entre os iguais
Lembrando e construindo
Sonhos benfazejos
É poder abraçar os amigos
Escutando um 'eu te amo' em meio ao barulho de aplausos
É conter o choro para deixar falar
Uma amiga
É desabar em lágrimas nas felicitações
Ou contê-las, temendo não resistir
É olhar pro alto
Vendo estrelas
No lugar de lírios
Poesia é dizer um sim
E escutar um também