O medo agora tem cor, cheiro e endereço. Deixou de ser algo inodoro, invisível. O monstro subiu do porão e começa a arranhar a porta, querendo entrar. Conheço o seu jeito não é de hoje e mamãe teima em me dizer: "vai passar, filha, vai passar". Será?
Sei não...das outras vezes que arrombou minha porta, fez um estrago daqueles. Pintado de azul e amarelo, com um grande bico e a fome maior ainda, manteve-se aqui por exatos oito anos, entregando tudo o que eu tinha aos transeuntes. Vi aos poucos minha casa esvaziada. Perdi o viço e, desde esse tempo, tomei horror a ele, eu que já temor o tinha. Lutei, com todas as forças das minhas mãos pequeninas, para expulsá-lo de dentro, mas inútil. Ele entrou e tomou gosto pelo meu cantinho.
Agora está querendo voltar, após oito anos tentando me recuperar. Decerto, minha casa ainda não está como quero, falta muita coisa...mas, logo agora? Logo agora, quando minhas mãos já sabem plantar coisas melhores, já ensaiam algumas notas musicais. Logo agora que minha casa permanece mais serena, que meus vizinhos me respeitam mais. Logo agora que pensava em enfeitar o jardim... Logo agora?
Mamãe continua me dizendo: "vai passar, filha, vai passar". E aí me lembro, em flashes, de uma lenda antiga, contada na hora de dormir. Falava que, certo dia, o rei lançou um desafio: quem seria capaz de criar uma frase apropriada para ler na hora da tristeza, como também no instante da alegria? Muitos foram as tentativas de todos os plebeus, contudo a única que calou o rei foi exatamente esta: vai passar.
Assim, seja qual for o resultado dessas minhas noites aterrorizantes, seja qual for a força do monstro com suas unhas perseverantes, terei como escudo, de fato, o ninar de minha velha mãe: "vai passar". Por ora, asseguro: minhas pequenas mãos continuam tateando o trinco da porta e fechando e fechando e fechando...
Sei não...das outras vezes que arrombou minha porta, fez um estrago daqueles. Pintado de azul e amarelo, com um grande bico e a fome maior ainda, manteve-se aqui por exatos oito anos, entregando tudo o que eu tinha aos transeuntes. Vi aos poucos minha casa esvaziada. Perdi o viço e, desde esse tempo, tomei horror a ele, eu que já temor o tinha. Lutei, com todas as forças das minhas mãos pequeninas, para expulsá-lo de dentro, mas inútil. Ele entrou e tomou gosto pelo meu cantinho.
Agora está querendo voltar, após oito anos tentando me recuperar. Decerto, minha casa ainda não está como quero, falta muita coisa...mas, logo agora? Logo agora, quando minhas mãos já sabem plantar coisas melhores, já ensaiam algumas notas musicais. Logo agora que minha casa permanece mais serena, que meus vizinhos me respeitam mais. Logo agora que pensava em enfeitar o jardim... Logo agora?
Mamãe continua me dizendo: "vai passar, filha, vai passar". E aí me lembro, em flashes, de uma lenda antiga, contada na hora de dormir. Falava que, certo dia, o rei lançou um desafio: quem seria capaz de criar uma frase apropriada para ler na hora da tristeza, como também no instante da alegria? Muitos foram as tentativas de todos os plebeus, contudo a única que calou o rei foi exatamente esta: vai passar.
Assim, seja qual for o resultado dessas minhas noites aterrorizantes, seja qual for a força do monstro com suas unhas perseverantes, terei como escudo, de fato, o ninar de minha velha mãe: "vai passar". Por ora, asseguro: minhas pequenas mãos continuam tateando o trinco da porta e fechando e fechando e fechando...
Magna Santos
14 comentários:
Magna querida!
"Vai passar" é uma expressão milagrosa, consoladora e capaz de nos tirar da linha do desespero.
Não há dores, feridas, desesperos, terrores ou medos que não serenem com um simples
"vai passar."
É o tempo que deixa de ser carrasco e no "seu" passar, nos devolve as frações de vida que nos é arrematada pelos dissabores.
"Vai passar" é um bálsamo para feridas que, mesmo sem remédio, param por instantes de latejar.
Beijos,
Inês
É, pescadora, uma expressão adequada a quase tudo.
Pensei em criar marcadores para deixar claro sobre do que eu estou falando. Talvez os coloque, não sei. Às vezes, prefiro deixar livre para interpretações.
Vamos em frente.
Beijos.
Magna
Magna,
Pode começar a enfeitar seu jardim. Este monstro não vai ter mais guarida em sua morada. Uma primavera vermelha vai se espraiar pelos cantos... Remeto ao Chico: "Inda pago pra ver o jardim florescer qual você não queria..."
Em breve vai ser um "já passou". Também tenho medo; mas acima de tudo, tenho fé.
Preciso voltar mais vezes às suas sementes.
Abraços.
Se Deus quiser, Hérlon! Eu também tenho fé.
Olha, as músicas de Chico passaram muitas na minha cabeça ao escrever estas palavras, inclusive, o título remete a uma delas. Excelente lembrança, amigo.
Beijos e vamos em frente!
Magna
É desolador ver quanta gente teima em se enganar (não são engandos, é um ato voluntário) pela internet a fora. Assacam milhares de infâmias e calúnias, esquecendo-se dos males que esse monstro perpetrou e continua planejando. Até imaginam golpes e revoluções, por certo se regozijando com a ideia. Pena que não se apercebam do tempo feliz que estão vivendo.
Mas, quem sabe se mais quatro anos de bonança os desperte pra realidade?
_Beijos.
É muito triste, Roberto, e preocupante. O link que segue traz um texto do Luis Nassif, refletindo sobre isto que estamos assistindo: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-psicologia-de-massa-do-fascismo-a-brasileira. Vale a pena. Josias de Paula Jr. também escreveu algo importante no Inscritos em Pedra (indicação no blog).
Pensei que estes tempos de terrorismo já tinha passado no nosso país. Só me lembra a campanha do Collor, quando Lula foi tirado do embate nos momentos finais por uma propaganda traiçoeira e mentirosa.
Esperamos que tudo mesmo passe e que a lucidez volte.
Beijos.
Magna
Magna,
Bicho ruim não quer morrer. A gente taca a vassoura na cabeça dele e o danado escapole, esguio como ele só.
Dessa vez o bicho ameaça voltar. E agora está mais forte, pois se alimenta do medo. Medo é uma coisa terrível, principalmente quando vem da ignorância.
Esse é o verdadeiro mundo cão.
Dimas
Dimas, mas juntos conseguimos matar o danado. Ah, se conseguimos!
Abraço.
Magna
adorei Magna!!!
O verde ficou no meio do muro, melhor assim, continuará verde e não desbotará! Que o vermelho se alie ao branco e fique rosa... romantico!
rsrsrs
Bjs
Pra mim, já desbotou, Ana, infelizmente. Mas, numa coisa concordamos: o vermelho vencerá!
Beijo.
Magna
Magna, esse mosntro não volta, não. A não ser por meios virtuais... Como disse sua sábia mãe: vai passar. Se, em seus sonhos, ele insistir em pertubar, apenas jogue uma bolinha de papel na cabeça dele. Você terá, pelo menos, 24h de folga...
ps: Amanhã terá o forró Pé de Dilma, lá no Mercado da Madalena, a partir das 12h. Pega fogo mesmo depois das 13:13h! Vamos nessa! espalhe a notícia. Teremos Chiló, Gerrá....
Magna, esse mosntro não volta, não. A não ser por meios virtuais... Como disse sua sábia mãe: vai passar. Se, em seus sonhos, ele insistir em pertubar, apenas jogue uma bolinha de papel na cabeça dele. Você terá, pelo menos, 24h de folga...
ps: Amanhã terá o forró Pé de Dilma, lá no Mercado da Madalena, a partir das 12h. Pega fogo mesmo depois das 13:13h! Vamos nessa! espalhe a notícia. Teremos Chiló, Gerrá....
Geó, esse negócio de bolinha de papel...o que eu já ri com isso!
Olha, infelizmente, não pude ir ao forró pé de Dilma(adorei o nome!). Mas, cadê você, camarada, na Biblioteca do Coque? Pena você não ter ido.
Abraço.
Magna
Passou!!!
Beijos, Clenes!!
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