terça-feira, 16 de novembro de 2010

SÓ FLOR


A cabeça anda cansada, já não aguenta tanta tecnologia. Liga o monitor e aquela dor rotineira a visita. Os livros andam com as letras cada vez menores. "Melhor rever os óculos, devem estar desatualizados", teoriza para si mesma. Mas o fato é que não aguenta nada, absolutamente nada. Cansou de pensar. E foi aí que pensou como seria um dia sem pensar:

Um dia onde as gotas de chuva pudessem inundar o quintal e ela nem percebesse a juriti procurando o ninho encharcado.

Um dia onde as contas voltassem pro remetente e este se encarregasse de quitá-las, pois o destinatário estaria num destino impensante.


Um dia onde dormisse horas a fio e quando acordasse nem lembraria de existir, simplesmente, seria.


Um dia onde as pessoas não precisassem de conselhos nem lhe procurassem para respostas.


Um dia onde vomitasse todas as dores e não lhes retornassem ao apetite.

Um dia onde escorregar no erro fosse normal...sem culpa, sem dor.


Onde as lições fossem bem-vindas e os fracassos, festejados como marcas da tentativa.


Um dia onde os sorrisos fossem fora do comum...feito bobos, loucos, pouco convencionais.

"Ah, razão que aprisiona os sentidos!"

Um só dia...


Um dia:
onde, porque o quando não tem lugar para quem não pensa.

Um dia sem regras gramaticas nem ortográficas para não se obrigar a ter ideias sem acento...

Sim, um dia sem idéias.

Só flor, fruto e cor.



Magna Santos

8 comentários:

Dimas Lins disse...

Magna,

Que belo texto. Lembrou-me, por outras vias, Chico Buarque:

Pra mim, basta um dia
Um dia pra aplacar a minha fantasia

Depois de uma crise reumática, vou voltando ao computador e vim logo aqui para te ver.

Abraços,

Dimas

Paulo Fernandes disse...

Magna,
Fazia já um certo tempo que não entrava no blog. Resolvi fazê-lo hoje, depois da festa à fantasia. Mas posso dizer que é um belo texto. O quanto me orgulha ser seu amigo-irmão. Quanta sensibilidade. Um beijão e até o Lenine.

Magna Santos disse...

Dimas, fiquei curiosa quanto à música de Chico.
Vai voltando sim, nós leitores teus agradecemos. Vou depois passar no Estradar, ok? Obrigada pelo carinho e atenção.

Paulinho, até o Lenine, quando então saberei, ao vivo, das peripécias de um certo espanhol com sua Carmen. Misericórdia! Trate de me mandar a foto, viu.

Beijos.
Magna

tesco disse...

É, tem dia assim, em que a gente não quer nem sentir. Pouca similaridade, mas me lembrei de um 'poemeu' (como diz o Millôr):
"NÃO QUERIA...
Estar assim... tão só,
E ser assim... tão fraco,
Ficar assim... tão pouco.
Morrer assim... tão... pó!"
Mas essa ideia de 'não ser' persegue a nossa imaginação - sim, não pensar equivale a não ser - e é algo até difícil de se pensar: Se não somos, o que somos?
Porém, a ideia de fracasso deve ser abandonada, fracasso é apenas uma das etapas np caminho para o sucesso.
_Beijos.

Magna Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Magna Santos disse...

Roberto, beleza de "poeseu".
A ideia do fracasso talvez seja importante para não esquecermos da humildade...tão necessária a todos nós. Lembro de uma antiga crônica de Samarone(Estuário), falando de um encontro com Raimundo Carrero, quando este trouxe uma ótima reflexão sobre o 'direito de fracassar'. Excelente crônica. Caso queira, te repasso por email(acho que ainda a tenho).
Beijo.
Magna
Obs.:Dimas, lembrei do "papai" google e descobri a música de Chico. Matei minha curiosidade.

Marina disse...

Isso me lembrou um pouco Clarice Lispector. Lindo, Magna. Quero esse dia pra mim.

Magna Santos disse...

Vamos atrás dele, Marina, do dia.
Beijos.
Obrigada.
Magna