quarta-feira, 20 de julho de 2011

MURO

Dez minutos de atraso foram suficientes para perceber o quanto o atraso é permanente na sua vida. Ela estava sempre à espera, disfarçadamente controlada, como um bombeiro a dois passos de uma bomba. Não importa se o coração quase sai pela boca, importante são as mãos não tremerem, o juízo concatenar ideias, as pernas andarem. Para onde?

Faz anos permanece em círculos. Vive sentada num muro imaginário, onde só os passarinhos a visitam e, vez ou outra, uma borboleta distraída.

Atende pelo nome de fulana, sem sobrenome nem nada que a possa expor. Tem que se preservar até a última gota...de sangue, esse mesmo que também não sabe o tipo e que passeia nas suas veias, graças ao sistema autônomo.

Autonomia é um tabu que aprendeu quando criança. Disseram-lhe que não sabia de nada e ela acreditou. E até hoje fica sem saber e acreditando piamente que não pode, não merece e não vai. Por isto, fica, criando raízes ao invés de asas.


Magna Santos

13 comentários:

Domingos disse...

E este muro alado Magna! Que imagem ! Quanto eu pude enxergar de mim neste texto, impregnado da dura realidade, que só a poesia pode comportar. E mais não digo.
Domingos

Hérlon Fernandes disse...

Que a metamorfose que se operou na boboleta visitante uma dia ensine fulana a criar asas e lhe cochichar que o impossível é coisa de quem não tenta!
Lindo texto!

Magna Santos disse...

Só a poesia pode embelezar, Domingos. Quem comporta, muitas vezes, é um coração apertado com gosto de lodo de muro.
É muito bom ver você aqui, meu amigo. Que férias, hein?

Hérlon, tuas palavras certamente trazem argumentos importantes de lembrar.

Obrigada, amigos.
Abraços.
Magna

Dimas Lins disse...

Magna,

Que continho maravilhoso. Continuas hábil escrivinhadora, semeando palavras.

Abraços,

Dimas Lins

Magna Santos disse...

Muito obrigada, amigo das letras.
Vamos em frente.
Abraços.
Magna

Anônimo disse...

Magna, passei para fazer uma visita!!! Beijão
Anninha

Magna Santos disse...

Que bom! Obrigada, Anninha.
Beijão!
Magna

Canto da Boca disse...

Magna, ao ler-te é impossível não lembrar de alguns textos do Galeano, n´O Livro dos Abraços: http://www.epsjv.fiocruz.br/beb/textocompleto/008802 em "Celebração da voz humana/2"; "Os sonhos esquecidos"; "O Estado na América Latina"; "A burocracia/1"; "A burocracia/3"; há tanto em comum entre vocês.

Beijo, ótimo domingo!

;)

Magna Santos disse...

Boca, não estou conseguindo abrir o livro. Computador novo, programas velhos. Vou dar um jeito nisso para poder me deliciar com o Galeano.
Muito obrigada pela tua presença que me abre outra janela. Obrigada.
Beijão bem grandão.
Boa semana.
Magna

Luna Freire disse...

Ai... ainda bem que eu li o vento primeiro... Vento é mais alegre que muros!

Magna Santos disse...

E pontes também são mais alegres, né, Fabiana?

Josias de Paula Jr disse...

Que texto! Profundo, melancólico. Mal que acomete a tantos...
Vejo, de novo, tons "psicanalíticos". É mestra nisso!

Magna Santos disse...

Já te disse isto: você que é psicanalítico.
Beijão.
Magna