Setembro chegou e com ele, dizem, chega também a primavera. Recife é uma cidade que gosta de surpresas. Às vezes me levantava, olhava o que o céu iria me dizer. 'Hum, sol'. Os passarinhos, para variar, felizes que só o quê, cantando e fazendo festa. Sem dúvida, o dia seria de sol. Entretanto, no percurso ao trabalho, algo ía se modificando e lá chegava às gotas finas que caíam com abundância. Por isso, já faz tempo, ando aberta a essas surpresas que a cidade quer nos oferecer e é interessante observar a mudança do tempo de um lugar para o outro. Que venha o que vier: o sol aquece e a chuva lava, o que mais podemos querer? O fato é que, nestes tempos, Recife nos faz olhar mais para o céu, uma grande bênção para uma cidade ser feliz: seus moradores olham mais para o céu. Isto pode nos fazer mudar o ângulo de visão e, quem sabe, olhar um pouco mais para o lado.
Lembrei de uma dissertação comentada que recebi há alguns meses sobre uma certa cegueira social. Repassei imediatamente a fim de compartilhar os questionamentos dirigidos, na verdade, a todos nós. O mestrando Fernando Braga da Costa se disfarçou, ou melhor, trabalhou como gari por oito meses e sentiu na pele o peso da invisibilidade pública, a qual ele suspeitava apenas teoricamente. Que maravilha de trabalho e iniciativa! Varrendo as ruas da USP, contou que foi ignorado por professores, amigos, colegas de curso, gente que há poucos instantes trocavam idéias com ele. Foi uma experiência que, imagino, o enriqueceu não apenas cientificamente, mas, sobretudo, na sua humanidade. Por exemplo, ele comentou: "descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência". Creio que ele aprendeu a olhar mais para o lado, ou talvez já o soubesse para ter escolhido um tema tão singular. Uma curiosidade interessante: esta informação me chegou de Belo Horizonte, cidade cujo nome fala muito de si, encaminhada por um primo amigo, que a recebeu de um estudante de direito, cego. E pensar que nem sempre se precisa de olhos para ver...
Lembrei de uma dissertação comentada que recebi há alguns meses sobre uma certa cegueira social. Repassei imediatamente a fim de compartilhar os questionamentos dirigidos, na verdade, a todos nós. O mestrando Fernando Braga da Costa se disfarçou, ou melhor, trabalhou como gari por oito meses e sentiu na pele o peso da invisibilidade pública, a qual ele suspeitava apenas teoricamente. Que maravilha de trabalho e iniciativa! Varrendo as ruas da USP, contou que foi ignorado por professores, amigos, colegas de curso, gente que há poucos instantes trocavam idéias com ele. Foi uma experiência que, imagino, o enriqueceu não apenas cientificamente, mas, sobretudo, na sua humanidade. Por exemplo, ele comentou: "descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência". Creio que ele aprendeu a olhar mais para o lado, ou talvez já o soubesse para ter escolhido um tema tão singular. Uma curiosidade interessante: esta informação me chegou de Belo Horizonte, cidade cujo nome fala muito de si, encaminhada por um primo amigo, que a recebeu de um estudante de direito, cego. E pensar que nem sempre se precisa de olhos para ver...
Nos espaços de blogs, há pessoas prestando atenção a outras, falando de como se sentem ou de como percebem o mundo, a cidade, a vida. Há os já indicados aí do ladinho, nos quais também existem referências a outros igualmente interessantes. Pessoas, falas, pensamentos, cada um quer deixar seu recado. Ao criar este espaço, meu único objetivo era dar vazão a uma vontade antiga de escrever. Escrever, escrever, escrever. Sem tanta programação nem roteiro certo, mas com um fim útil, ao menos, a mim mesma. Ao mundo da escrita só cabe sentir e deixá-lo ter vida própria. Talvez isto justifique um pouco porque me pego agora pensando o que eu queria mesmo dizer, quando comecei a escrever este texto. Perdi-me por entre as linhas, escorreguei nos meus questionamentos e acabei esquecendo o que queria mesmo falar. Vai ver que não queria dizer nada de tão especial assim, mas só falar dos dias, do ritmo da vida, do olhar e, quem sabe, agradecer aos que me sinalizam que devo olhar um pouco mais para o lado, sair da cegueira social, humana, pessoal. Oxalá eu consiga até o anoitecer. Tenho fé: chego lá.
Enquanto isso, fiquemos com um agradecimento também ao tempo, ao mês de setembro que me trouxe pessoas tão especiais para o meu coração, como o meu padrinho, como Francisco e uma criatura que vive me dizendo: "setembro é o mês mais bonito do ano". Apesar das controvérsias, hei de concordar: é um mês que floresce.
2 comentários:
Setembro, flores,sol/chuva,"padim", Fransico... Tudo de bom!Bjs
Você escapou por algumas questões: pela reflexão sobre a cegueira
social, show de bola! E pelo VIVA A SETEMBRO, é claro. Fico feliz que
você tenha cansado de guardar todas essas palavras apenas para si e
sentido o desejo de compartilhá-las conosco. Você precisando escrever
e nós precisando ler, aprender e nos emocionar. Coincidência, né? Vai
em frente. Quero mais.
Beijos,
Lídia.
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