Conheci a menina-ponte no último dia 22. Ela chegou acompanhada de amigos e mostrou o caminho, onde iríamos encontrar poesia, gente e sorrisos. À entrada da rua, foi saudada como só as crianças o fariam. "Tia, tia, tia!" Abraços e mais abraços dá pra conter a euforia e contagiar os reles acompanhantes que, de tão aéreos, não conseguiam atinar para a profundidade da rua. Namorados se abraçavam na calçada, outros conversavam, mas a calçada ali resgatava o significado perdido em muitos lugares: encontro.
A fachada da biblioteca é só cores e figuras felizes de um azul que não está longe do céu. À entrada, as poesias batem nos nossos narizes, dependuradas pelo telhado como se fossem as próprias goteiras congeladas, só que, dessa vez, sortiam de beleza o espaço todo criado pelas crianças. Muitas queriam mostrar a sua:
_ Ler esta!
_ Aquela é dela.
_ Acho linda esta.
E assim fomos respirando, respirando...
Sem fôlego, fui suspendida do chão por uma pequenina vivaz. Outro chegou por trás para ajudar a amiga. Ambos tentavam me levantar, como se, de fato, eu já não estivesse nos ares. Alegria, em forma de pulos, era necessário para também mostrar as fotos aos visitantes:
_ Olha eu ali!
_ Onde?
_ Ali, ó!
Sim, ela estava ali e ali e ali. E eu não sabia em que lugar ficar, visto que queria estar em todos.
Chegando a hora do sarau, vimos meninos se apertarem para ouvir o que os adultos nem sempre estão dispostos, mas que uma caixa de som bem que encurta o espaço, quando se quer.
Em plena rua, Zé de Guedes nos presenteou várias vezes com seus poemas visuais, sonoros e contundentes. Fez sucesso com sua simpatia, seu "urubu-rei", contagiando todos nós e sendo também surpreendido pelo acolhimento espontâneo e festivo dos pequenos. Fabiana Coelho - a menina-ponte - com seus arquivos poéticos, declamou outros tantos e os meninos...ah, os meninos...
_ Tia, tia, me dá uma poesia, tia!
Como não se emocionar com tamanho pedido? Como não pensar que o mundo, onde crianças pedem poesia só pode crescer e crescer bem? Que explodam todas as teorias pessimistas, todas as visões preconceituosas, todas as manchetes estigmatizantes. Betânia, que persevera naquela biblioteca com o coração mole e os pulsos firmes, nos informou das crianças como quem falava dos próprios filhos. Sim, filhos às vezes dão aperreio, às vezes preocupam, mas acreditá-los é fundamental. E ela acredita.
Tive a honra de "declamar" ("Fabiana, eu não sei declamar") um dos poemas com um menino esperto, de olhos atentos, de mãos apressadas e de voz inquieta. Tales e eu abraçados permanecemos enquanto perguntávamos o que era poesia aos demais. E agora vai uma resposta possível:
Poesia é ver Drummond e outros mestres repousarem em estantes da periferia
É encontrar pessoas, cuja crença num mundo melhor faz parte da prática
Poesia é sentar na calçada, escutando canções, histórias, poemas e tantas risadas
É receber um abraço e uma declaração de uma menina recém conhecida: "eu gosto de você"
Poesia é ser alçada por uma criança de 3 anos em plena biblioteca.
Sim, Ester, eu também gosto de você e meus pés ainda estão fora do chão.
Para Fabiana Coelho, Betânia e todos os meninos do Coque.
Magna Santos
A fachada da biblioteca é só cores e figuras felizes de um azul que não está longe do céu. À entrada, as poesias batem nos nossos narizes, dependuradas pelo telhado como se fossem as próprias goteiras congeladas, só que, dessa vez, sortiam de beleza o espaço todo criado pelas crianças. Muitas queriam mostrar a sua:
_ Ler esta!
_ Aquela é dela.
_ Acho linda esta.
E assim fomos respirando, respirando...
Sem fôlego, fui suspendida do chão por uma pequenina vivaz. Outro chegou por trás para ajudar a amiga. Ambos tentavam me levantar, como se, de fato, eu já não estivesse nos ares. Alegria, em forma de pulos, era necessário para também mostrar as fotos aos visitantes:
_ Olha eu ali!
_ Onde?
_ Ali, ó!
Sim, ela estava ali e ali e ali. E eu não sabia em que lugar ficar, visto que queria estar em todos.
Chegando a hora do sarau, vimos meninos se apertarem para ouvir o que os adultos nem sempre estão dispostos, mas que uma caixa de som bem que encurta o espaço, quando se quer.
Em plena rua, Zé de Guedes nos presenteou várias vezes com seus poemas visuais, sonoros e contundentes. Fez sucesso com sua simpatia, seu "urubu-rei", contagiando todos nós e sendo também surpreendido pelo acolhimento espontâneo e festivo dos pequenos. Fabiana Coelho - a menina-ponte - com seus arquivos poéticos, declamou outros tantos e os meninos...ah, os meninos...
_ Tia, tia, me dá uma poesia, tia!
Como não se emocionar com tamanho pedido? Como não pensar que o mundo, onde crianças pedem poesia só pode crescer e crescer bem? Que explodam todas as teorias pessimistas, todas as visões preconceituosas, todas as manchetes estigmatizantes. Betânia, que persevera naquela biblioteca com o coração mole e os pulsos firmes, nos informou das crianças como quem falava dos próprios filhos. Sim, filhos às vezes dão aperreio, às vezes preocupam, mas acreditá-los é fundamental. E ela acredita.
Tive a honra de "declamar" ("Fabiana, eu não sei declamar") um dos poemas com um menino esperto, de olhos atentos, de mãos apressadas e de voz inquieta. Tales e eu abraçados permanecemos enquanto perguntávamos o que era poesia aos demais. E agora vai uma resposta possível:
Poesia é ver Drummond e outros mestres repousarem em estantes da periferia
É encontrar pessoas, cuja crença num mundo melhor faz parte da prática
Poesia é sentar na calçada, escutando canções, histórias, poemas e tantas risadas
É receber um abraço e uma declaração de uma menina recém conhecida: "eu gosto de você"
Poesia é ser alçada por uma criança de 3 anos em plena biblioteca.
Sim, Ester, eu também gosto de você e meus pés ainda estão fora do chão.
Para Fabiana Coelho, Betânia e todos os meninos do Coque.
Magna Santos
5 comentários:
Cara Comadre. Parabens a sua amiga pelo trabalho, espero que cresça assim como cresce esses caça-poesia que alegremente descrevestes.
Halano
É o que esperamos todos, cumpade. Tentei colocar aqui um pouco da importância do trabalho, mas ele é muito mais do que isso.
Você que está distante, para saber um pouco mais tem o link para a Biblioteca aí no lado direito.
Abraço.
Magna
Magna,
agora foi vc que me suspendeu nos ares, e ainda estou com os olhos molhados... Poesia é ter sensibilidade para perceber a vida em seus detalhes. Vc tem!
Ah! Podemos postar teu texto no blog da Biblioteca?
Fabiana, obrigada de novo e novamente, quantas vezes for preciso.
Eu apenas coloquei um pouco do muito que vi e senti, minha amiga. A poesia é por conta de vocês que conseguem viver a beleza da fraternidade. A gente se sente pequenininho diante daquele trabalho...mas é bom se sentir assim, porque nos faz querer crescer um pouco mais.
Beijos em você e em todos de lá. Ihh, agora deu saudade da alegria dos meninos, do abraço de Ester, da gaiatice de Tales, daquela barulheira boa.
Magna
Obs.:fique à vontade em relação ao texto. Pra mim é uma honra.
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