quinta-feira, 19 de maio de 2011

APELO À CHUVA

Fui acostumada, quando criança, a te esperar com ansiedade, te festejar com alegria, sapateando nas poças que fazias no meu quintal. Corria atrás de bicas para aflição de uma mãe cuidadosa, que temia uma gripe na filha pequena.

Com tua chegada, meus tios sorriam, porque era certeza de colheita farta e mesa abastecida. Eras, portanto, bem-aventurança.

Hoje, longe do meu torrão e já crescida, fujo de ti. Vejo-te da janela e dentro permaneço, indiferente à variedade de biqueiras que ostentas nas casas vizinhas. Sem gripe, com saúde, restou-me algum medo por te ver alagando ruas, vilarejos, cidades inteiras. Inundas até as famílias que, junto com tua água, afogam a esperança e o sossego.

Preocupa-me tua presença como quem hospeda um amigo à beira de um colapso. És e não és bem-vinda. És e não és querida. Uma certa tensão impera no ar.

Porém as vozes alegres dos meus distantes dão-me notícia de que também os visitastes. Novamente: colheita garantida, suor respondido.

Então, daqui te aceno como quem te dá mesmo um tchau: vai embora para onde és bem vinda, vai para onde és sinônimo de bem-aventurança.


Magna Santos

2 comentários:

cynthia disse...

estou por aqui, Ma-ma....... mas são tão bonitas tuas palavras que dá até vergonha de comentar outras coisas.....

Magna Santos disse...

Ah, que coisa boa tua presença aqui!Que negócio é esse de vergonha, Cynthia? Hum. Depois conversamos.
Beijos.
Magna