Enquanto os confetes caíam, ela prestava atenção a ele. Cabisbaixo em um canto, como a esperar um soluço ou quem sabe o inusitado. Talvez, uma canção que o levantasse para a vida. Não, um trampolim que o dispersasse do passado direto para o futuro. Ah, essa canção não vinha, esse trampolim não existia.
_ O que houve? perguntou ela
_ Saudades - respondeu alheio
_ De quê?
_ Não sei. Acordei hoje com um gosto de tamarindo como se tivesse me fartado.
_ Mas você nem gosta de tamarindos... ao menos foi isso o que me respondeu, quando eu te ofereci.
_ Eu nunca os comi, foi o que te disse.
_ Então eu não entendo. Como pode sentir gosto de tamarindos se nunca os comeu?!
_ Você não entende...
Neste momento algo apontou na esquina.
_ A troça! - anunciou ela
_ Não, minha querida, a banda. Veja.
Ela então sentou-se junto a ele e observou: o maestro parecia flutuar no seu traje de algodão. Com as mãos articulava os sons. A batuta parecia mais uma varinha de condão, pois em cada movimento as notas compartilhadas entre cordas, sopros, baquetas, harmonizavam o ambiente como a distribuir canções próprias ao coração. Os confetes inverteram a direção e começaram a subir ao céu. E lá chegou, ficando mais um pouco para chover canções em meio ao turbilhão de emoções.
Máscaras negras, pierrot, arlequim, bailarina, palhaços, colombinas, todos se espalharam pelo ar.
O dia raiou e o vento levou confetes, fantasias, máscaras, serpentinas. Ficou o gari no seu trabalho incansável, o médico a computar o estrago, o adeus a pessoas queridas...ficaram tanto na sua realidade. O menino engraxate a batucar na praça uma velha canção. Sorriso sujo de graxa a pedir mais um tostão. Sobrou-lhe um tamarindo para o almoço. Ele também tem saudades...saudades do que nunca teve.
Magna Santos
5 comentários:
O carnaval mal se foi e ja ta dando saudade!!!aiiiiiiih
q saudde do q não tive
lindo texto
A tão dita saudade do carnaval. Eu a sinto, com o mesmo gosto de tamarindo. Saudade do que se foi, mas volta. Não de maneira tão completa, tão juvenil; mas linda, de qualquer maneira.
Beijo, linda!
Tamarindo tem um gosto agridoce, precisamente ácido, estimulando a salivação antes da degustação...qualquer semelhança com a vida, é mera coincidência.
É, o gari é quem aparece por último. Mas eu não gosto de tamarindo, apesar de ter comido tantos. Gosto é de ingá. E da vida. _Beijos.
Tesco, que bom que você pôde enxergar o gari ou seria o engraxate? Na verdade, a ilusão é sempre uma bela embalagem: agrada aos olhos, mas é descartável, é temporário. O conteúdo da vida mesmo é o que fica com realidades presentes ou ausentes, nos deixando às vezes saudades, ensinamentos,um gosto amargo ou doce. Isso em qualquer classe social...o tamarindo é comum ou, para não contrariar, o ingá. :)
Abraço.
Magna
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