sexta-feira, 7 de maio de 2010

SEM DIQUES

Quando somos crianças, uma enxurrada de coisas novas nos chegam às mãos, ao nariz, aos olhos, ouvidos, tudo. Conhecer o mundo é algo que assombra, que encanta, exclama, embeleza e também interroga. O coração não dá nome aos sentimentos. Temos que aprendê-los todos. Alegria é quando dá vontade de pular, tristeza, quando dá vontade de chorar encolhida, vontade é algo que nos coça o coração, amor é quando não cabemos em nós, saudade é "quando o amor fica". E por aí vai.

Hoje tive um dia assim...gostaria de um adulto para me orientar o coração. Ele está aos pulos, chorando, sem caber em si e também está em outro lugar que não no meu peito. Foram viajar e levaram-no junto. Empacotaram-no com uma rapidez que nem deu tempo de chorar. Fiquei olhando aquilo ainda na esperança de que mudassem de ideia. Nada. Não deu tempo de dizer o que queria, de chorar na despedida. Nada. Subi no elevador feito criança amuada, quando não lhe atendem os sentimentos. As lágrimas desciam teimosas e ainda agora saem dos olhos, quando lembro. Ao mesmo tempo, uma gratidão invade o coração que não consegue se decidir no que sentir. Ora alegre, ora saudoso, ora tudo.

A voz no telefone me conforta:
_ Magninha, infeliz daquele que não tem saudade!
_ Mas precisa ser tão urgente? Acabaram de ir...

E a voz continua tranquila, sem pressa, sem susto, sem angústia. Algumas palavras a mais e uma linda notícia me enche de esperança e felicidade, concluindo tudo o que sentia, sem desconfiar. Estou diante da plenitude e sua voz. Sim, é isto mesmo: plenitude.

_ Mas não precisa chorar. Vai chorar é, Magninha?

Então, lembro de que as lágrimas são feitas de mar. E não posso ficar sem expô-las, sem derramá-las. Não tenho diques. Não posso represá-las. Elas se derramam abundantes de felicidade. E talvez agora eu possa responder àquela voz com mais clareza:

Eu não choro porque preciso, choro porque não caibo.
Choro porque chorando
Me derramo
Choro porque a vida é muito boa
Os amigos são muito bons
Deus é Pai

Choro porque a esperança logra sempre o que anuncia
A intuição, o que insinua

Choro porque os corações são pontes
Que se esticam na medida da distância
Choro porque o relógio pode ser cruel em alguns momentos
Mas ele sempre passa
Passa sempre o tempo
Passam três meses, quatro, seis
Com cheiro de menino ou menina?
Choro
Porque nove meses é um tempo bom
Para se ver um filho.

Para meus amados que me deixaram mal acostumada nestes dias.
Para minha amiga que, como boa aluada, anda virando lua cheia de tanta felicidade e vai comemorar o seu primeiro dia das mães no próximo domingo.

Magna Santos

11 comentários:

Anônimo disse...

Se tirar alguma coisa eu processo. Adorei! Guardarei como o primeiro presente da tia já tão amada. Mais uma vez, agradeço a Deus por você existir e pelo seu dom de transformar as emoções em palavras tão lindas.
Beijos no coração

Hérlon Fernandes disse...

Há muito tempo atrás escrevi uns versos que, não sei porque, ficaram marcados na minha memória, acho que por lembrar uma saudade feliz como essa sua, tão cheia de alma. Transcrevo o trecho:
"Minha saudade é feliz
E não é por acaso que me prendo
A essas lembranças
- Que não são vagas nem vãs;
São sãs, frutos da minha melhor parte!"
Abraços, amiga.

Lílian Alcântara disse...

Ao invés de procurar um adulto para orientá-la procure uma criança, será muito mais prático resolver. E não há criança que recomende não chorar, chore sempre, chore bastante, mas não por dentro - é o que elas dizem. Afinal, o choro é excreção, é tirar a angustia de dentro pra fora e não soterrá-la ainda mais.

Magna Santos disse...

Aluada, que alívio! Que bom que gostou! E eu também agradeço por poder participar de momentos tão preciosos da tua vida.

Hérlon, você está respirando saudade e talvez agora saiba porque gravou este trecho na memória. Muito obrigada pela tua presença, amigo.

Lílian, que bom que chegaste por aqui. Olha, nem sempre o choro é de angústia. Se chora também de muita, mas muita gratidão e felicidade.

Beijos!
Magna

Anônimo disse...

Cara Comadre. Não é à toa que tenho a facilidade da palavra prima é fácil de ser dita. Prima é simples e singular como uma obra-prima, é de primeira em ordem de gostar, mas se no gostar de força tamanha invadisse a grafia, desse um chute na bolinha do P, engembrassem a perninha de uma cacetada dada na cabeça do A, depois separassem com o R o I do M, ai ficaria como é o sentimento: IRMÃ. Não nascemos do mesmo ventre mas o amor familiar, nos dá um elo sem igual. Um forte abraço.
HALANO

Dimas Lins disse...

Magna,

Que belas palavras. Desse jeito a saudade é um afago, um cafuné, pois elas passam o carinho que está por trás de tanta dor no peito.

Sobre saudade, lembro de duas músicas em especial. Uma de Zeca Baleiro que diz assim:

A saudade é Brigitte Bardot
Acenando com a mão
Num filme muito antigo

A outra, mais dolorosa, é de Chico Buarque que trata a saudade como uma punhalada no coração:

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Dimas Lins

Luna Freire disse...

Pois é, por mais que a gente ponha diques, é sempre pouco para a fúria das águas. Melhor mesmo é deixar desaguar...
(Minha filha vivia se queixando de uma dor no coração. Fiquei preocupada! Falei com a médica. Depois é que percebi que a dor vinha sempre na hora da saudade ou da necessidade de carinho. Era, simplesmente, aquele aperto no peito que a gente conhece tão bem...)

Dois Rios disse...

Magna querida,

Você tem o dom de materializar os sentimentos. Quase podemos tocá-los de tão consistentes que são.

A saudade dói mas, se serve de algum consolo, é um claro sinal de que temos a quem amar e quem nos ame.

Um grande beijo,
Inês

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Olá.

Vim conhecer o seu espaço de sentimentos
e idéias.
Encontro na chegada este texto repleto de palavras plenas
que nos devolvem a nós,
de um modo simples
mais verdadeiro.
Saudade é amor vivido
de outras formas.

Que a vida esteja plena em ti,
e que haja tempo
para sentí-la.

Dil Santos disse...

Oi Magma, tudo bem?
Linda suas palavras, a saudade é algo bom, pois vemos o quão importantes são as pessoas, os momentos dos quis vivemos. Só ñ podemos deixar elas nos consumirem, pois aí, deixará a bondade de lado e somente nos fará mal.
Com fé em Deus ele ficará bem, a campanha q estou fazendo, pedindo humildemente a todos, conhecidos, desconhecidos, vai ajudar e muito, pois orações nunca são demais e sei q Deus mostrará o Seu Poder a todos, mostrará o verdadeiro milagre que fará na vida do meu amigo.
Fico feliz q tenha encontrado o caminho té meu blog, rs
E Inês é uma pessoa fantástica.
Um bjo
:)

Clenes Calafange disse...

Mamá, minha flor! Que bela palavras! Realmente, por vezes, nos sentimos como crianças em determinadas situações. Mas, como adultos, nos confortamos pela aprendizagem que recebemos. Aprendizagem, leia-se educação. Mas tem momentos que o que queríamos mesmo era fazer birra pelos sentimentos que estamos experimentando. Tem situações que são fogo! Exigem de nós posturas firmes. Às vezes acho cruel que um adulto não possa derramar-se em sentimentos...