sexta-feira, 8 de abril de 2011

RECICLADO

Piedade, meu Deus!
Eu não sabia do fim

O asfalto na cara é o que me resta

Deste mundo sofrido

Pessoas me perguntam

Sem que eu atine
Respostas
Algo aconteceu...
Só uma buzina
Uma luz

São minhas lembranças


Piedade, piedade!

Já não escuto nada
O asfalto na cara esfria

Meu corpo inteiro


Piedade, Criador!

Cada garrafa, papelão, papel
Vale o tempo perdido
Agora reciclado

Piedade, meu Deus!
Onde ela está agora?

...
E eu?
...

Onde estou?



Magna Santos

7 comentários:

Tadeu Rocha disse...

Comecei bem a sexta feira com mais um belo poema.

Magna Santos disse...

Obrigada, Tadeu. Que bom que gostou.
Sinto necessidade de falar um pouquinho da motivação deste. Estou no momento, como todo país, abalada com a morte das crianças no RJ. Mas, antes disso, na noite anterior, fiquei impactada ao ver um senhor e sua carroça (de reciclagem) no chão da avenida Boa Viagem. Apesar de, infelizmente, comum os acidentes nesta cidade, não quero me acostumar com eles. E a figura do senhor(carroceiro) comoveu a todos, acho. Depois de um dia recolhendo material, trabalhando, provavelmente, voltando pra casa, eis a batida, o atropelamento...a família sem notícias, enfim.
Vamos em frente. Mais um final de semana...também é um bom motivo para nos reciclarmos por dentro.
Fique com Deus!
Beijão.
Magna

Tadeu Rocha disse...

Magna, vc conseguiu captar o drama no poema. Ficou denso, bem cadenciado. O verso "o asfalto na cara esfria meu corpo inteiro" concentra e revela toda tragédia. O verso "Piedade, meu Deus!" serve de contra-ponto. E o final remete a reflexão. Mais uma vez afirmo, um belo poema.

Arsenio disse...

Magna,

Assino - com muita honra - os comentários certeiros do Poeta Tadeu.

Tadeu chamou-nos a atenção para os dois versos nucleares do Poema.

Um poema dorido, mas um Poema com maiúsculo.
bjos do amigo
Arsenio

Magna Santos disse...

Agora eu me lembrei do nosso amigo João Carlos com suas tiradas pra lá de bem humoradas: estou toda ancha. Na minha terra, dizemos 'paba'.
Mas o que fico mesmo é agradecendo a Deus pela oportunidade de escrever e de poder ser lida por vocês, meus amigos.
Escrever muitas vezes pra mim é questão de sobrevivência e lê-los também.
Beijão.
Magna
Obs:vou lá agora no Fusca que agora virou Barbearia. A primeira vez que entro numa. Arsênio e Tadeu, quero indicar pra vocês um link que tem aí do ladinho: Inscritos em Pedra. É de Josias de Paula Jr., o Geó, amigo de Sama, Arsênio. Um poeta de primeira e que anda sem publicar já faz um tempo, o que é lamentável, mas faz parte dos momentos da vida. Faz tempo que quero te indicar ele, Arsênio, se é que já não o conhece.

Arsenio disse...

Vou lá minha amiga, ainda não o conheço. Mas indicação sua tem prioridade total.

E andando com Sama, e sendo seu amigo, boa gente ele é. DISSO, DÚVIDA NÃO HÁ.

Magna Santos disse...

Geó é mais um que não conheço pessoalmente, apenas falei por telefone, mas não tenho dúvidas que é gente boa. Meu faro é certeiro, além das referências serem ótimas, como você bem lembrou: Sama e também Dimas Lins, outra figura do bem.
Vai lá mesmo, meu amigo, o cara não é fraco não. Explora bem que você vai encontrar poemas como este:


O PULO DO GATO

No chão
o gato
às vezes
é caça

Às vezes
é o cão
que força
o salto –
o cão
em sua
raiva atávica

Ao gato
no escuro
resta o pulo
e a segurança
do muro

Mas
quem se guarda
detrás
do muro,
de outro mal
se esquiva
e improvisa
sobre o tal
uma nova
cerca

Com a qual
o gato
em sua fuga -
suspensão
do corpo e da vida -
fará contato

Une
o destino infame:
o medo do dono
do muro
e o medo
do gato
do cão -

E a pele e o arame
no toque,
no choque
que é o fim:
eletrocução

Josias de Paula Júnior.