Outros, que permaneço no chão
Há quem suspeite do meu esboço
Como a amealhar intenções
Há quem adivinhe os suspiros
Os gritos e até as solidões
Há, sempre haverá
Onde ainda nem sei...
Me aparto do mundo
Para me ter mais inteira
Me aparto de tudo
Para sossegar o espírito
E há quem diga que sofro
Quando apenas sonho
Meninos perambulam nos meus sonhos
À procura de abrigo
Órfãos esperam aconchego
Enquanto estudo
Pais se interrogam sobre o eixo
Quando tateio o meu
Leis falam dos direitos
Onde existem aos pedaços
Inteira, permaneço na intenção
Escrevo os meus dias no silêncio
Falo quando faz barulho
Escuto a saudade
Enquanto canto
Talvez eu chore
Enquanto durmo
Talvez eu sonhe
Enquanto acordo
Creio que deixei de dormir
Talvez a sonolência de tempos
Se despeça pra nunca mais
Quero assistir ao menino bravio
Quero amparar-me na esquina dos trilhos
Extasiar-me com as multidões
Isolar-me dos padrões vazios
Encontrar-me com a menina que fui
Tirar-me de um muro de pedra
E pular ao encontro da luz
Sem dragões vermelhos
Sem espelhos assombrados
Sem cristaleiras de eus
Dar adeus ao que não me serve mais
E quando eu estiver de volta
Quero me ver de pé
Caminhando
Quem sabe pulando de alegria
Me despedindo do meu amado pai:
Até logo, até breve, até mais
Segue avante, querido sempre, estou aqui...
Estou em paz
De mãos abertas ao destino
Seguindo as pegadas do Menino de Luz
Sem esperar pelo Natal.
Sem esperar.
Quanto vale um coração sereno?
Quanto vale um espírito em paz?
Quanto vale toda uma vida?
Quanto vale o que tenho pra viver...
Ah, quanto vale!
27.11.2006.
Magna Santos
10 comentários:
Que lindo!
Quão verdadeiro!
Tantos turbilhões são esses que nos fazem perder as estribeiras do nosso prumo?
Onde está o ponto de equilíbrio do mundo?
Onde está o ponto de equilíbrio de nós mesmos?
Tantas lembranças... Será que demais para as dimensões de um coração?
Sua poesia nos faz refletir sobre o Viver.
Abraços, amiga.
talvez você esteja fazendo as perguntas erradas, talvez não se deva fazer essas perguntas...
talvez.
talvez o mais certo seja continuar caminhando. caminhemos.
Lindo, Magna!!! Que bela série de poemas!... Com a face de teu pai em todas elas... Mas, escuta: permaneceremos sempre, sempre, nas intenções. Porque nunca somos inteiras!!... e os dragões vermelhos e os espelhos assombrados não podem deixar de existir. Eles fazem parte desta jornada que estamos sempre cumprindo.
Hérlon, você, como sempre muito generoso e reflexivo.
Naira, bem-vinda. Sinceramente, não sei se existem perguntas erradas. Liberdade sim é podermos fazer todas as perguntas possíveis e as impossíveis, sobretudo. Isto pra mim é também caminhar. Até mesmo o teu 'talvez' é interrogação "metida" a ponto final, mas interrogação, pois não pode definir.
Luna, de fato, somos falta e desejo de completude, somos a própria busca, talvez.Que bom que pude passar uma certa "sequência" nestes escritos, era este o desejado. Ah, os dragões e espelhos...concordo com você, eles também sobrevivem e constroem quem somos. Tuas palavras me lembraram uma crônica antiga de Samarone sobre a infância reinventada. A conclusão lá e aqui é que somos quem somos, graças a tudo o que vivemos - bom ou ruim. Gosto de quem sou, e, por isso mesmo, fico feliz pelo direito que as palavras me dão de matar dragões e quebrar espelhos. Santa palavra! Salvadora.
Beijo em todos vocês.
Muito obrigada pelas palavras. A troca é fundamental.
Magna
Poema tão suaves e tão intenso. Como pode? Vale muito!
Beijos, Magna!
vale, ver você produzindo, vê-la inspirada, vale ter a sua amizade, vale saber da sua existência, vale entender que muito vale o que você faz valer!
Vale sua magnitude! Vale!
Abração
Apenas esse trecho:
"Escrevo os meus dias no silêncio
Falo quando faz barulho
Escuto a saudade
Enquanto canto
Talvez eu chore
Enquanto durmo
Talvez eu sonhe
Enquanto acordo", já se sustentaria como poema!
Sequencia forte de poemas tematizando a falta paterna. É interessante notar que no poema de 2004 - Dragão vermelho - o mundo é bonito "visto daqui": do muro, com olhos de criança, por meio de uma saudade feliz. Mundo bonito vendo-o à distãncia...
Embora nesse outro, de 2006, você continue a assinalar distanciamento do mundo, escolha consciente por certa solidão, o final é um retubante SIM à vida! Um coração sereno, um espírito em paz, toda tua vida futura... quanto vale!
"Ah, quanto vale!"
Marina, Pachelly e Josias, muitíssimo obrigada.
E vale muito as palavras de vocês! Podem ter certeza.
Abraços.
Magna
Sempre existe quem nos compreenda inteiramente, mas, na maioria das vezes, não temos esse alguém conosco fisicamente. Nada impede, porém, que esse 'alguém' esteja conosco sem que, apenas, não o vejamos. Enquanto isso, sigamos com a compreensão parcial de nós mesmos. Que nos compreendam aos pedaçõs. Muitas vezes, é a nossa própria compreensão. _Beijos.
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