segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PEDREIRA

As luzes sagradas de Recife me esperam. Gente dorme lá embaixo, enquanto exulto em chegar. Poucos sabem da minha existência e isto pouco importa. Os que sabem me dizem coisas boas e boa mesmo é a vida, as cores, o tempo.

Retorno de uma cidade limpa, belíssima, quase impecavelmente arquitetada para encher os olhos e a vida dos seus habitantes. Poucos pedintes pela rua...poucos? Acaso um só não seria muito em qualquer lugar?

Parece que ainda estamos complacentes a uma lógica perversa.

Alguém comenta na jardineira*: "se tem coisa feia nesta cidade, eu não vi". Aponta-se, então, um barraco. É, desconfia-se que há gente a sofrer.

E sou salva por Leminski na sua pedreira curitibana:
Magna Santos

*tradicional ônibus turístico de Curitiba

7 comentários:

Domingos disse...

Eita Magna. Pelo telefone lhe perguntei sobre a Pedreira e você falou que tinha escrito. Haja coincidência. Leminski nos dai hoje a poesia com frio e tudo o mais que o só o bandido que sabia latim pode nós dar. Não fosse uma profecia eu cegasse hoje mesmo. Mas é a tua viagem que importa. E o teu regresso mais ainda. E o sol que é a marca impressa nos teus poemas te recebeu com todo gás. Que bom. Curitiba recebeu um belo sopro da poesia pura e bela que invade o cais vinda do sertão. E porque eu vou dizer mais alguma coisa. Mais não digo.
Domingos

Magna Santos disse...

Coincidência? Será? De todo modo, "distraídos venceremos", ou não?
Abração!
Magna

Dimas Lins disse...

Magna,

Bons ventos a trazem de volta na leveza das horas, apesar dos pesares e descontamentos do mundo. Sim, um só pedinte é demais em qualquer lugar. A pobreza torna duros os olhos de quem a vê, não de quem a sente.

Que tua poesia seja como o mar de Leminski e se espalhe para tudo quanto é lado.

Dimas

Magna Santos disse...

Obrigada, Dimas.
E amém.
Abraço.
Magna

Canto da Boca disse...

O Recife tem essa magia, e como magia, inexplicável, e que assim seja, né Maga?
Para quem existes, também existe do tamanho do seu sentimento, e como não tens tamanho em sentires, és imensa em si, em nós, e no mundo que te sabes.
Um dia quem sabe, a limpeza, a beleza e garantia de direitos básicos, será a realidade de todos os brasileiros, banhados pelo mar de poesia leminskyniana? Num mundo igual, cheio de respeito a um e a todos...

Beijos, e eita como é bom nos embrenharmos por esse Sementeiras!

;)

Magna Santos disse...

Eita, Boca, ler tuas palavras nesta manhã de quinta-feira me banhou de alegria e de uma emoção que gostaria de sentir todo santo dia. Muito obrigada.
E, sim, dia virá em que todos poderemos conviver com a justiça e a dignidade. Não tenho a menor dúvida. Foi para isso que tanta gente lutou, morreu, sangrou e vive ainda se embrenhando em busca de mais e mais possibilidades iguais.
Da nossa parte, plantaremos palavras, colhidas na beleza e certa tristeza desta vida. A esperança é o que nos guia, a beleza é nosso chão, o amor é nossa arma.
Amém!
Beijão bem grandão.
Fique com Deus!
Magna

Deixo um pouco de Quintana:

ESPERANÇA

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Silvia Góes disse...

sim, sim...