terça-feira, 2 de agosto de 2011

PEQUENA ALEGRIA

Quarta fila do Teatro Guararapes. Primeira a querer saber sobre o show, segundo funcionário da bilheteria. Mal contive a alegria. Quarta fila. Gil estará lá, sem chance para o "ou não" costumeiro. Estará sim e eu também, se Deus quiser. Eu e minha turma. Geraldo Maia abrirá o espetáculo. Primo do meu amigo Domingos, também digno e ótimo de se escutar.

_ Magninha, Geraldo Maia abrirá o show! Vai ser perfeito.
_ Geraldo Maia?
_ Sim, ele é ótimo.
_ Sei quem é Geraldo. Ele estava dando uma palhinha na feijoada do Domingos, que te falei.
_ Não acredito!
_ Foi. Não se avexe não. Dia 13 você escutará os dois: Geraldo Maia e Gilberto Gil.

Depois do dockside, foi aberta a temporada para os pequenos sonhos. Desconfio que não somos apenas o que fazemos, mas também o que ouvimos, o que queremos ouvir. Foi a música, mais do que os livros, que me embalou desde pequena. Não aprendi um instrumento sequer, como já contei aqui, porém, desde pequena, ela vive sustentando todos os momentos. Saudade, medos, preconceitos, conceitos, Deus, festa, alegria, tristeza, raiva...sou capaz de cantarolar algo sobre cada coisa. Gil com sua Refazenda, despedindo-se de Drão, 'falando com Deus', 'matando a sede' num Domingo no Parque, são algumas das músicas, situações vividas. E, quando as coisas velhas teimavam em aprisionar, apesar do meu Lamento Sertanejo, a Novidade vinha me dizer o quanto valia a pena e eu voltava a Andar com Fé.

Ah, meus amigos, perdoem essa pieguice incontrolável. Sou mesmo uma criança com doce nas mãos ou uma apaixonada vendo o Luar. É só minha alegria. No dia 13 faremos uma Procissão para aquele desorganizado estacionamento do Centro de Convenções, com a velha ansiedade sobre o tempo que se escorre, porém, lembrarei do Tempo Rei e tudo ficará em Paz.


Fiquem com um pouco de Galeano (presente lindo de Boca que costuma frequentar este espaço). Talvez ele consiga dizer o que não pude aqui:

A função da arte/1

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que
descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas
altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia,
depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a
imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao
pai: — Me ajuda a olhar!
Eduardo Galeano


Magna Santos

13 comentários:

Dimas Lins disse...

Magna,

Assim como você, meu primeiro contato mais forte com as palavras foi através da música. Tive a sorte de acompanhar a MPB nos seus melhores anos, apesar da ditadura militar. Também como você, não aprendi a tocar nenhum instrumento, embora, dois anos atrás, me arrisquei em aulas de violão numa tentativa desesperada de recuperar um tempo que não volta mais. Creio que fui o único caso de aluno que teve tendinite aprendendo violão. Descobri desolado que meus dedos não possuem talento nem destreza para tocar um instrumento. Paciência, uso os ouvidos.

Quanto as palavras de Eduardo Galeano, sinceramente, de primeira grandeza. Belíssimo!

Dimas

Anônimo disse...

Bate-bola Magna/Galeano. E nós saímos ganhando. Vou enviar para: Geraldo Maia.O quanto antes. Me reinvento e me alfabetizo com a tua capacidade de orquestrar as palavras. E que bela música nos traz... Abração
Domingos

Magna Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Magna Santos disse...

Dimas, MPB é minha grande paixão na música. Curto demais as boas composições. Sou muito ligada à letra, certamente, é o amor pela palavra que me faz buscar a poesia em cada uma. E a poesia musicada, realmente, é imbatível.

Domingos, está vendo o efeito ainda da feijoada? Essa minha amiga (inclusive tem um CD dele) quase morre de lamento por não ter também ido. Encaminha mesmo pro Geraldo.

Abração aos dois.
Obrigada.
Magna

tesco disse...

Gil é uma coisa boa da música brasileira. Na minha infância eu ouvia muito o frevo e a incursão de Gil neste gênero (Frevo rasgado")é muito boa.
Eduardo Galeano também é coisa boa,não se pode dizer 'é coisa nossa!, mas também nos fala à alma.
Boa audição!
_Beijos.

Magna Santos disse...

Roberto, Gil é multifacetário, do frevo ao forró, passando por regae e tanto mais...
E você tem razão, porque a arte sempre nos fala à alma, independente de onde venha.
Beijão.
Magna

João Carlos disse...

Gil e Geraldo são 2 pelo preço de 1.Noutras palavra, ingresso com preço de estudante para todos.Agora,esses shows serão ou já foram ? KKKKKK.
O texto de Magna é para se reler.Certeiro.
E o Galeano... dose dupla de novo.

Magna Santos disse...

Eita, João, pelo jeito que falei parece até que já fui, já curti e já voltei, não é? Mas ainda vai ser, agora próximo dia 13, junto com teu Sábado Som lá "No Toitiço".
Abração.
Magna

Canto da Boca disse...

Uau!!

É assim que fico na falta de palavras, e olha que palavrear é uma coisa que faço sempre.

O Gil é também uma das minhas referências musicais, e também estarei lá dia 13 - sim, Magna estou no Recife, até o próximo voo, que só Deus sabe quando -, para ver e sentir mais um espetáculo do "mestre" do relativismo e das experiências "transcendentais-místico-experimentalistas".

Ousando livremente a partir do documentário Os Doces Bárbaros - se não viste, recomendo, vale muito a pena ver. Abaixo o link para fazeres o download, se desejares:
http://megaupload.com/?d=ORGEZOI2

E deixo um grande beijo e desejo de ótimas dias, leituras e músicas!

Obrigada pela inferência no Canto, e como bem disseste, a vida é um barco sem itinerário e cais certos!

p.s.
Me informa quando haverá o sarau?

;))

Dois Rios disse...

Coisa boa, Magna! A arte em prol dos que, como você, sabem apreciá-la.

O texto do Galeano é lindo de viver. Há algum tempo está reservado no Rascunho do Dois Rios para um dia navegar por lá.

Beijo, querida!
Inês

Magna Santos disse...

Boca, obrigada por mais este presente. Não vi não, mas vou vê-lo,com certeza. Assisti ano passado "Uma noite em 67". Se não viu, veja, pois vale muito a pena. Adoraria saber se está disponível na net, mas sei que ele está na Livraria Saraiva. É excelente!
Olha, quanto ao Sarau, estou também na expectativa. Os amigos da Biblioteca do Coque ficaram de me dar um toque, caso organizem algo. Qualquer coisa, te repasso.

Inês, obrigada pelas palavras. Galeano cabe direitinho no Dois Rios, aquele lugar aconchegante e cheio de beleza que cativas.

Beijos.
Magna

Josias de Paula Jr disse...

Qause todos nós, no Brasil, começamos o namoro com as palavras através da música. Não é qualquer país que tem Gil, Caetano, Chico, Milton, Humberto Texeira, Belchior etc etc. Mas o teu jogo com as canções de Gil está impagável! E, no final, Galeano (texto belíssimo!).
Cadê nosso saraus? Por que não aproveitamos esta estadia de Boca aqui no Recife. Estou às ordens! Grande abraço!

Magna Santos disse...

Geó, depois do que falamos ao telefone, só me resta ficar no aguardo. Sarau é uma bela desculpa para as palavras se encontrarem.
E sim, concordo contigo: não é mesmo qualquer país que tem a música que temos.