Meus cabelos balançavam soltos
Ao contato de tuas mãos.
Por entre as grades do jardim
Via teu corpo de herói a deslizar como num sonho
Grande, alto, alegre, feliz
Como eu, como nós,
Meu pai.
Já estavas atrasado
Ao que tudo indicava
Ou quase tudo:
Ficava eu a ver-te ir
Por entre a grade? Não.
Me subiam ao muro
E de lá assistia
Ao que não podia supor.
Corrias feito um menino
E o dragão vermelho te esperava
Para inesperadas aventuras.
Um tchau de braço inteiro
Mostrava como eras feliz
Parecia um menino...!
Igual a menina que ficava
A ver-te por cima do muro
Sentada no muro...
Lugar mais incômodo, meu pai!
Melhor o teu colo
Melhor o teu braço
Teu abraço benfazejo
Teu aconchego eterno
Que o tempo me promete e traz
Meio que em uma nuvem
Talvez uma fumaça que seja
Tragada pelo dragão
Derramada pela espuma do mar
Que te levou de mim
Ao contato de tuas mãos.
Por entre as grades do jardim
Via teu corpo de herói a deslizar como num sonho
Grande, alto, alegre, feliz
Como eu, como nós,
Meu pai.
Já estavas atrasado
Ao que tudo indicava
Ou quase tudo:
Ficava eu a ver-te ir
Por entre a grade? Não.
Me subiam ao muro
E de lá assistia
Ao que não podia supor.
Corrias feito um menino
E o dragão vermelho te esperava
Para inesperadas aventuras.
Um tchau de braço inteiro
Mostrava como eras feliz
Parecia um menino...!
Igual a menina que ficava
A ver-te por cima do muro
Sentada no muro...
Lugar mais incômodo, meu pai!
Melhor o teu colo
Melhor o teu braço
Teu abraço benfazejo
Teu aconchego eterno
Que o tempo me promete e traz
Meio que em uma nuvem
Talvez uma fumaça que seja
Tragada pelo dragão
Derramada pela espuma do mar
Que te levou de mim
Foi engano, papai, é engano!
Olha o relógio outra vez
Ainda é cedo
Não estás atrasado
Vem!
Me tira daqui
O muro é duro, pequeno, inseguro
Quero sair
Quero subir nas tuas costas
Sentar na tua corcunda
E sair por aí
Segurar na testa tua
Pra não cair
...
Que mundo mais bonito, pai
Quando visto daqui!
Escrito em 2004.
Magna Santos
5 comentários:
Amiga,
As lembranças, a saudade, apesar de doerem, são o atestado de que toda essa felicidade foi concreta e alentadora no passado; mesmo hoje tendo o gosto de sonho, de parecer ser feita de nuvem, de ser uma fotografia em sépia que em breve se revelará em cores vivas...
Muito linda sua homenagem aos pais - ao seu pai em especial - neste mês tão propício.
Aliás, você sabe como ninguém tratar desses temas cotidianos que são a grande e autêntica felicidade!
Abraços.
P.S.: Excluí o comentário anterior porque continha um pequeno erro, então o reescrevi.
Belo... A menininha que olhava o pai continua viva dentro de você. E o pai, também, em tão lindas lembranças...
Ai, eu devo ser uma manteiga derretida mesmo. Chorei escrevendo o texto de dia dos pais do meu blog, me emocionei lendo seu poema...
Lindo, Magna! Beijos!
Sua sensibilidade nos toca o coração. Sentí-me o menininho de meio século atrás. O cotidiano do adulto é muito complexo para uma criança de seis, sete anos. Mas o amor, o carinho, o afeto transmitido pode chegar integralmente, e ressoa pela vida afora. O mundo é muito bonito visto com esse ponto de vista. _Beijos.
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