sexta-feira, 7 de agosto de 2009

DRAGÃO VERMELHO

Meus cabelos balançavam soltos
Ao contato de tuas mãos.
Por entre as grades do jardim
Via teu corpo de herói a deslizar como num sonho
Grande, alto, alegre, feliz
Como eu, como nós,
Meu pai.
Já estavas atrasado
Ao que tudo indicava
Ou quase tudo:
Ficava eu a ver-te ir
Por entre a grade? Não.
Me subiam ao muro
E de lá assistia
Ao que não podia supor.
Corrias feito um menino
E o dragão vermelho te esperava
Para inesperadas aventuras.
Um tchau de braço inteiro
Mostrava como eras feliz
Parecia um menino...!
Igual a menina que ficava
A ver-te por cima do muro
Sentada no muro...
Lugar mais incômodo, meu pai!
Melhor o teu colo
Melhor o teu braço
Teu abraço benfazejo
Teu aconchego eterno
Que o tempo me promete e traz
Meio que em uma nuvem
Talvez uma fumaça que seja
Tragada pelo dragão
Derramada pela espuma do mar
Que te levou de mim

Foi engano, papai, é engano!
Olha o relógio outra vez
Ainda é cedo
Não estás atrasado
Vem!
Me tira daqui
O muro é duro, pequeno, inseguro
Quero sair
Quero subir nas tuas costas
Sentar na tua corcunda
E sair por aí
Segurar na testa tua
Pra não cair
...
Que mundo mais bonito, pai
Quando visto daqui!

Escrito em 2004.

Magna Santos

5 comentários:

Hérlon Fernandes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hérlon Fernandes disse...

Amiga,
As lembranças, a saudade, apesar de doerem, são o atestado de que toda essa felicidade foi concreta e alentadora no passado; mesmo hoje tendo o gosto de sonho, de parecer ser feita de nuvem, de ser uma fotografia em sépia que em breve se revelará em cores vivas...
Muito linda sua homenagem aos pais - ao seu pai em especial - neste mês tão propício.
Aliás, você sabe como ninguém tratar desses temas cotidianos que são a grande e autêntica felicidade!
Abraços.

P.S.: Excluí o comentário anterior porque continha um pequeno erro, então o reescrevi.

Luna Freire disse...

Belo... A menininha que olhava o pai continua viva dentro de você. E o pai, também, em tão lindas lembranças...

Marina disse...

Ai, eu devo ser uma manteiga derretida mesmo. Chorei escrevendo o texto de dia dos pais do meu blog, me emocionei lendo seu poema...

Lindo, Magna! Beijos!

tesco disse...

Sua sensibilidade nos toca o coração. Sentí-me o menininho de meio século atrás. O cotidiano do adulto é muito complexo para uma criança de seis, sete anos. Mas o amor, o carinho, o afeto transmitido pode chegar integralmente, e ressoa pela vida afora. O mundo é muito bonito visto com esse ponto de vista. _Beijos.