sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

EU VOU, EU VOU...

Ah, Deus do céu! Quantas vezes preciso acompanhá-la em uma aula de natação para aprender tanta coisa. Minha filhinha do coração, sobrinha amada, é assim: quando chega, todo mundo sabe, não porque faça barulho, mas porque ilumina a todos e cumprimenta verdadeiramente: "_Tia Paula, cheguei. Esta é minha tia. Tia, esta é tia Paula" - falando à professora já na água. Apresentações feitas, chega a hora de entrar na piscina. "_Chegou atrasada, né, mocinha?".

_ Rápido, tia. A touca.
_ Agora você tem pressa, né, florzinha? Tenha calma, preciso te ajudar direito.
Minhas mãos atrapalhadas não coordenam o cabelo na cabeça ansiosa. Vários fios de fora.
_ Ai, meu Deus! Assim não, tia.

A professora interfere:
_ Tenha calma, vou te esperar. Venha que eu te ajeito.
Dando, então, o certificado para o meu péssimo jeito de colocar um cabelo dentro de um touca e a senha para ela estar lá num pulo: "scabum!".

Respiração coordenada com braços e pernas, ela ía. Uma, duas, três... Na borda sempre confirmava se eu olhava e lá estava eu: polegar para cima, sorriso aberto e vontade de nadar também.

"_ Voltem de costas". E lá ía ela, junto com os demais. Ao vê-la ali tão linda, tão feliz, não tem como não estar também, não ser. E ao olhar a data, inevitável não lembrar que, há 6 anos atrás, o seu peito foi aberto pro coração ser consertado, enquanto o nosso permanecia espremido, apertado, suspenso. Não havia uma copeira, faxineira, médico, enfermeira que não saísse ouvindo um "obrigada" dela. Doze dias de internamento, doze dias de agradecimento; finalizou com todos nós de mãos dadas, caminhando no estacionamento do Hospital Português e cantando: "eu vou, eu vou, pra casa agora eu vou; pararatibum, pararatibum...".

O seu coração nos fez prestar mais atenção ao nosso e ainda hoje faz:
_ Tia, ele está com fome. Você tem um biscoito?
Assim ela aponta para o que já corremos o risco de ver como banal: a fome alheia.

Próximo mês, fará 11 anos. Já falei dela aqui e este antecipa os parabéns para o que, na verdade, sentimos cotidianamente com sua presença. O tempo passa ligeiro pros pequenos. Se antes os tínhamos como bebês, rapidinho os vemos andando, pulando, nadando... Feliz, portanto, aquele que pode aproveitar cada fase, acompanhando-os de perto.

Feliz sou eu por tê-la por perto. Por isto sempre lhe repito o que disse na borda da piscina:
_Tenho muito, mas muito orgulho de você, amor da minha vida! Eu te amo!


Magna Santos

9 comentários:

Ana Montenegro disse...

Lindo Magna,
Parece que a gente está lá, numa cadeira, a beira da piscina...vendo e sentindo tudo!!! Parabéns! Bjs

Luna Freire disse...

Crianças são poemas...
(Tem uma resposta ao teu comentário lá mesmo, em palavraspontes)

Marina disse...

A pureza das crianças... Não estão no mundo há muito tempo, mas, às vezes, parece que já viveram mais que a gente.

Lindo texto, Magna. Beijos!

Hérlon Fernandes disse...

O espetáculo das coisas mais simples.
Adorei!
Abraços.

Magna Santos disse...

Ana, que bom que você pôde estar lá também.

Concordo com você, Luna.

Marina, creio que às vezes elas viveram mais do que a gente mesmo...mas isto é outra história.

Hérlon, com certeza, a simplicidade é rica em espetáculos.

Obrigada, amigos.
Abraços.
Magna

Anônimo disse...

Cara Comadre. És incisiva, com suas palavras expõe as questões da alma, assim como o Patativa era um poeta social. Durante todo o processo de cirurgia, se lembra!... nunca chorei. Mas hoje rolaram as pedras, me fizeste chorar, mas estou na vantagem, não é de apreensão e sim de alegria. Alegria de celebrar as nossas riquezas, os nossos. Quando estou em casa que não é frequente, deito na cama com Pollyanna, Veio Macho e o Nego Macho, agradeço a Deus pelo meu pedaço de céu.
Halano

Magna Santos disse...

Bom receber comentários tão preciosos como esse teu, meu cumpade e irmão. E, respondendo, me lembro sim, como lembro.
Agora que tens mais Nego Macho e estás às vésperas do aniversário de Véi Macho...que mais um ser humano vai querer, senão um pedacinho do céu?
Que Deus te abençoe sempre.

Unknown disse...

cumade, minha fia que texto ein! puxa como disse a Ana, tive a mesma sensação de está lá, mas pra quem conhece essa florzinha, ela é iso mesmo, pura alegria.
bjos polly.

Magna Santos disse...

Pois é, Polly, pura alegria. Ela adora quando escrevo sobre ela. Na primeira vez, queria que eu lesse pra Deus e o mundo. Desta vez, ficou me imitando com o sorriso aberto e o polegar pra cima.Figura...
Beijos, cumade.
Magna