Encontrei um escritor numa fila de espera. Estávamos lá para sorrir e aprender um pouco mais sobre interpretar. Ensaiei uma pessoa descontraída a conversar desinibida como se velha conhecida fosse. Convenci tantos e do escritor sobrou-me livros, todos em sua velha algibeira. Ele parecia adivinhar que eu gostava das letras. Eu que nada falara sobre elas, que disfarçara a timidez por entre lorotas de desenganados.
_ Um ingresso, pelo amor de Deus!
_ Já estamos há uma hora a esperar.
_ Olha a fila de idosos.
_ Olha a fila!
Quando a alegria se resume a olhar para os últimos da fila, é porque perdemos a noção do tempo ou simplesmente a noção.
O fato é que o espetáculo transferiu-se para a calçada. Multidões, reclamações, hesitações...água, chicletes, jujubas.
A fila aumentava e diminuía na medida da paciência e da esperança. E eu lá permaneci, o escritor e eu como se nada tivéssemos para fazer.
Os ingressos chegaram, mais pessoas também, a porta se abriu...foi quando a esperança cedeu lugar à certeza em plena entrada.
_ Um ingresso, pelo amor de Deus!
_ Já estamos há uma hora a esperar.
_ Olha a fila de idosos.
_ Olha a fila!
Quando a alegria se resume a olhar para os últimos da fila, é porque perdemos a noção do tempo ou simplesmente a noção.
O fato é que o espetáculo transferiu-se para a calçada. Multidões, reclamações, hesitações...água, chicletes, jujubas.
A fila aumentava e diminuía na medida da paciência e da esperança. E eu lá permaneci, o escritor e eu como se nada tivéssemos para fazer.
Os ingressos chegaram, mais pessoas também, a porta se abriu...foi quando a esperança cedeu lugar à certeza em plena entrada.
Magna Santos
9 comentários:
Magna, minha querida
O seu post me deu tratos à bola.
O final, então, foi grande.
Um coloquialismo escrito com fluência e sem falsos maneiros, o seu texto leva o leitor a unir as duas conjugações verbais poéticas essencaisi: pensar e sentir ou vice-versa.
Mando -lhe um Drummond nesse domingo de sol e poesia. O nosso pota maior, com simplcidade, evia longe. Mesmo coisas tristes e episódpios corriqueiros, o poeta extraía de sua seiva o caule de uma verdade resl e dolorosa.c
"PORTÃO
O portão fica bocejando, aberto
para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver
nem nas ladeiras duras de subir,
quanto mais para estudar a insípida cartilha.
Mas se o pai do menino é da oposição
à ilustríssima autoridade municipal,
prima da eminentíssima autoridade provincial,
prima por sua vez da sacratíssima
autoridade nacional,
ah, isso não: o vagabundo
ficará mofando lá fora
e leva no boletim uma galáxia de zeros.
A gente aprende muito no portão
fechado."
(Carlos Drummond de Andrade, Menino Antigo, Livraria José Olympio Editora, p.49)
Magna, minha querida, reenvio-lhe o post, com as correções.
O seu post me deu tratos à bola.
O final, então, foi grande.
Um coloquialismo escrito com fluência e sem falsos maneirismo; um texto que leva o leitor a unir as duas conjugações verbais poéticas essencais: pensar e sentir ou vice-versa.
Mando -lhe um Drummond nesse domingo de sol e poesia. O nosso pota maior, com simplcidade, via longe. Mesmo coisas tristes e episódios corriqueiros, o poeta extraía de sua seiva o caule de uma verdade real e dolorosa.c
"PORTÃO
O portão fica bocejando, aberto
para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver
nem nas ladeiras duras de subir,
quanto mais para estudar a insípida cartilha.
Mas se o pai do menino é da oposição
à ilustríssima autoridade municipal,
prima da eminentíssima autoridade provincial,
prima por sua vez da sacratíssima
autoridade nacional,
ah, isso não: o vagabundo
ficará mofando lá fora
e leva no boletim uma galáxia de zeros.
A gente aprende muito no portão
fechado."
(Carlos Drummond de Andrade, Menino Antigo, Livraria José Olympio Editora, p.49)
O que seria de Sementeiras sem teus presentes, Arsênio?
Maravilha de Drummond!
Muito obrigada, amigo.
Que Deus te abençoe!
Beijão.
Magna
Ah Ah! Achei a Magna! E foi por osmose.Ninguém me falou (ou sou eu que ando meio alheio ?).
Vim assinar a Ficha de Inscrição.Não posso elogiar nem criticar.Só invejar! Mas a boa inveja (?).Poesia.Nem do Jardim eu sou.Estou no maternal.Espero que a poesia me queira porque eu estou querendo.Ao menos começo à frequentar os jardins certos.
Que coisa tão boa, meu amigo João por aqui. Como é bom começar o dia, sabendo da tua presença aqui neste terreno,onde se pretende sempre a plantação do bem.
Você aqui, João, é garantia de poesia com alegria e leveza.
Abração bem grandão!
Fique com Deus!
Magna
Nada como umalonga fila de teatro para se conhecer uma pessoa amável, de bom gosto e bonita. Muita paz
Benditas filas que nos dão oportunidade de conhecer pessoas como você, gentis ao ponto de resolver problemas que não são seus e ainda presentear com livros.
Muito obrigada.
Tudo de bom pra você.
Abraço!
Magna
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