domingo, 27 de março de 2011

FILA DE ESPERA

Encontrei um escritor numa fila de espera. Estávamos lá para sorrir e aprender um pouco mais sobre interpretar. Ensaiei uma pessoa descontraída a conversar desinibida como se velha conhecida fosse. Convenci tantos e do escritor sobrou-me livros, todos em sua velha algibeira. Ele parecia adivinhar que eu gostava das letras. Eu que nada falara sobre elas, que disfarçara a timidez por entre lorotas de desenganados.

_ Um ingresso, pelo amor de Deus!

_ Já estamos há uma hora a esperar.
_ Olha a fila de idosos.
_ Olha a fila!

Quando a alegria se resume a olhar para os últimos da fila, é porque perdemos a noção do tempo ou simplesmente a noção.

O fato é que o espetáculo transferiu-se para a calçada. Multidões, reclamações, hesitações...água, chicletes, jujubas.

A fila aumentava e diminuía na medida da paciência e da esperança. E eu lá permaneci, o escritor e eu como se nada tivéssemos para fazer.

Os ingressos chegaram, mais pessoas também, a porta se abriu...foi quando a esperança cedeu lugar à certeza em plena entrada.


Magna Santos

9 comentários:

Arsenio disse...

Magna, minha querida

O seu post me deu tratos à bola.
O final, então, foi grande.
Um coloquialismo escrito com fluência e sem falsos maneiros, o seu texto leva o leitor a unir as duas conjugações verbais poéticas essencaisi: pensar e sentir ou vice-versa.

Mando -lhe um Drummond nesse domingo de sol e poesia. O nosso pota maior, com simplcidade, evia longe. Mesmo coisas tristes e episódpios corriqueiros, o poeta extraía de sua seiva o caule de uma verdade resl e dolorosa.c

"PORTÃO

O portão fica bocejando, aberto
para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver
nem nas ladeiras duras de subir,
quanto mais para estudar a insípida cartilha.
Mas se o pai do menino é da oposição
à ilustríssima autoridade municipal,
prima da eminentíssima autoridade provincial,
prima por sua vez da sacratíssima
autoridade nacional,

ah, isso não: o vagabundo
ficará mofando lá fora

e leva no boletim uma galáxia de zeros.

A gente aprende muito no portão
fechado."

(Carlos Drummond de Andrade, Menino Antigo, Livraria José Olympio Editora, p.49)

Arsenio disse...

Magna, minha querida, reenvio-lhe o post, com as correções.

O seu post me deu tratos à bola.
O final, então, foi grande.
Um coloquialismo escrito com fluência e sem falsos maneirismo; um texto que leva o leitor a unir as duas conjugações verbais poéticas essencais: pensar e sentir ou vice-versa.

Mando -lhe um Drummond nesse domingo de sol e poesia. O nosso pota maior, com simplcidade, via longe. Mesmo coisas tristes e episódios corriqueiros, o poeta extraía de sua seiva o caule de uma verdade real e dolorosa.c

"PORTÃO

O portão fica bocejando, aberto
para os alunos retardatários.
Não há pressa em viver
nem nas ladeiras duras de subir,
quanto mais para estudar a insípida cartilha.
Mas se o pai do menino é da oposição
à ilustríssima autoridade municipal,
prima da eminentíssima autoridade provincial,
prima por sua vez da sacratíssima
autoridade nacional,

ah, isso não: o vagabundo
ficará mofando lá fora
e leva no boletim uma galáxia de zeros.

A gente aprende muito no portão
fechado."

(Carlos Drummond de Andrade, Menino Antigo, Livraria José Olympio Editora, p.49)

Magna Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Magna Santos disse...

O que seria de Sementeiras sem teus presentes, Arsênio?
Maravilha de Drummond!
Muito obrigada, amigo.
Que Deus te abençoe!
Beijão.
Magna

João Carlos disse...

Ah Ah! Achei a Magna! E foi por osmose.Ninguém me falou (ou sou eu que ando meio alheio ?).
Vim assinar a Ficha de Inscrição.Não posso elogiar nem criticar.Só invejar! Mas a boa inveja (?).Poesia.Nem do Jardim eu sou.Estou no maternal.Espero que a poesia me queira porque eu estou querendo.Ao menos começo à frequentar os jardins certos.

Magna Santos disse...

Que coisa tão boa, meu amigo João por aqui. Como é bom começar o dia, sabendo da tua presença aqui neste terreno,onde se pretende sempre a plantação do bem.
Você aqui, João, é garantia de poesia com alegria e leveza.
Abração bem grandão!
Fique com Deus!
Magna

Fernando Farias disse...

Nada como umalonga fila de teatro para se conhecer uma pessoa amável, de bom gosto e bonita. Muita paz

Magna Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Magna Santos disse...

Benditas filas que nos dão oportunidade de conhecer pessoas como você, gentis ao ponto de resolver problemas que não são seus e ainda presentear com livros.
Muito obrigada.
Tudo de bom pra você.
Abraço!
Magna